O PRIMEIRO E O ÚLTIMO

Após apelos, interpretações dignas de Oscar e ajuda materna sempre muito bem-vinda, a barreira é vencida e meu pai decide comprar “aquele aparelho caro que não serve para nada de prático”. Não é o “quatro cabeças importado” dos playboys da escola. Na verdade é um CCE de duas cabeças. Isto não tem a mínima importância. A alegria não pode ser contida por estes pequenos detalhes. Agora, a missão mais emocionante: decidir qual filme teria a honra de inaugurar nosso recém-conquistado tesouro da adolescência.
Tinha uns quinze anos, meu irmão menos ainda. Não esperem que o primeirão tenha sido um filme europeu sobre o sentido da vida ou a filosofia da história. Éramos apenas moleques. E o pior, moleques crescidos nos famigerados anos 80. Éramos ingênuos e não precoces, como a molecada de hoje que aos 13 anos discute Michel Foucault. E o escolhido para iniciar nossa vida de vídeo-viciados foi... O Grande Dragão Branco. É isso mesmo que você leu, um filme do ator (ou lutador?) belga Jean-Claude Van Damme, o rei da porradaria, bem no início da carreira!
Perguntam se me arrependo? A resposta é simples e direta: NÃO! Era um momento da minha vida em que a única opção seria desse tipo. Para falar a verdade, sou capaz de assistir a este filme, de cabo a rabo, hoje, em pleno ano 2006. Obviamente tenho uma outra visão. Percebo um humor involuntário na fita que não via naquela época. Isto torna a sessão ainda mais divertida! Mas não vou parodiar o FHC e dizer “esqueçam o que eu assisti”.
É claro que o tempo passou, a minha visão de mundo mudou por uma série de fatores diferentes. Filmes como Rain Man, Sociedade dos Poetas Mortos e o incomparável Era Uma Vez no Oeste começaram a mudar a minha percepção. Até que chego ao último filme que aluguei, agora em DVD, mídia que faz o tão desejado vídeo-cassete parecer uma brincadeira tosca. A película em questão é o maravilhoso Hotel Ruanda, que ainda receberá o tratamento especial que merece aqui no Cinelândi@.
Certamente uma mudança qualitativa se operou. Não sou mais aquele adolescente cabeça-dura, que só via filmes de ação. Mas, também, não vamos ser simplistas ou maniqueístas. Um bom filminho de ação, de vez em quando, não faz mal a ninguém. Ainda mais se for bem feito como o emocionante A Supremacia Bourne.
Resumindo, do primeiro ao último filme alugado, muita coisa mudou. Hoje torturo os pobres e indefesos leitores do Cinelândi@ com este meu amadorismo indisfarçável. Fiquei abusado, metido a dar opiniões sobre filmes. Pelo menos agora, os antes indefesos leitores poderão jogar na minha cara: “Você não sabe nada de cinema, o primeiro filme que você alugou foi O Grande Dragão Branco!!” hehehe!
9 Comments:
Sócio, tem algum momento importante da sua vida que não tenha sido marcado por pérolas da cinematografia universal, como O Grande Dragão Branco ou Duro de Espiar? :-D
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Paulo Assumpção, at 11:42 PM
Parabéns pelo texto, Evandro, deveras interessante. O aparelho de vídeo, tão ultrapassado, quem diria, proporcionou grandes momentos e boas lembranças a cinéfilos como você.
Mas cá entre nós... Quem é Michel Foucault? ;-)
Cumps.
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Gustavo H.R., at 12:49 PM
MUUUITO bom o texto mesmo!
bah! o video cassete até hoje me acompanha
temho DVD e tudo mais... porém toda minha coleção de filmes do Woody está em vhs
então ainda mantenho esse verdadeiro mamute funcionando
voltarei!
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Anônimo, at 4:55 PM
Caro Evandro:
Adorei a cinecrônica sobre o velhusco videocassete player...
E quanto a "Era uma vez no oeste", do imenso Sergio Leone figura entre os meus prediletíssimos. Ele era um monstro de perfeccionismo.
No que se refere a filmes menos votados,há olhos para tudo e tudo deve ser visto. É inalienável o direito que cada um tem de ver. Na vida tudo são opções.
Parabéns por tão redigida matéria.
Abração sabatino. E,desde já,bela domingueira para todos.
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Anônimo, at 7:10 PM
Grande Evandro,
Pelos seus últimos posts, vejo que você assumiu um interessante tom confessional.
O primeiro videocassete é que nem o primeiro sutiã para as moças: a gente não esquece. Fiquei aqui pensando com que filme eu inaugurei o primeiro video da minha família. Rapaz! Não me lembro! Mas não devia ser nenhuma obra-prima da cinematografia universal. O videoclube que eu procurei não era lá essas coisas. Provavelmente foi uma comédia.
O fato de sua adolescência ser plasmada por filmes de ação, acho que a de todo mundo é assim, não é?
Eu já confessei no Antigas Ternuras que quando era moleque adorava filme dos fortões Maciste, Hércules, Sansão, Ursus, Santo o mascarado de prata... E, como você, me orgulho de meu passado! Um forte abraço!
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Marco, at 1:30 PM
Acho que meu pai compro nosso primeiro vídeo em 1986, ou 87. Tivemos um total de 4 (ainda temos 2 funcionando em ótimo estado), até chegarmos ao bendito DVD. :)
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Anônimo, at 12:05 PM
nessa época eu alugava nao so os VHS mas o VIDEO tb.
Curioso isso :D
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Anônimo, at 4:10 PM
Passei pelo mesmo martírio da tão esperada compra do video-cassete, já era uma cinéfila contumaz e tinha que pedir vídeos emprestados aos amigos ou ficar esperando pelas madrugadas para ver clássicos de que gostaria... Vida dura a nossa, não?
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Anônimo, at 12:40 PM
Parabéns pelo post, Evandro. Me fez tentar lembrar do 1º vídeo, acho q era um Gradiente... mas qual o primeiro filme, realmente não lembro... mas eu não tenho preconceitos, assisto de tudo, tudo mesmo!Quando posso, lógico, e muuuuuuuuuuuuuuuito menos do q eu gostaria, infelizmente. Atualmente, adquirimos um DVD... pergunte-me quantos eu já assisti...! Qualquer pessoa normal, pelo menos uns 5, visto q o dito cujo já deve ter uns 6 meses...mas até agora, praticamente, nenhum inteiro... Isto é uma vergonha. Mas eu pretendo me redimir...
Bem, um abraço e boa Páscoa pra vocês.
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Lena Gomes, at 12:53 PM
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