sexta-feira, abril 07, 2006

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO

Início da década de 90, mais precisamente o ano de 1990. Dois irmãos fazem uma campanha subterrânea e persistente para atingirem os seus objetivos. Não é a novela das oito. Nem mexicana, embora pareça. Esta é a jornada heróica deste que vos escreve e seu irmão mais novo para convencerem o seu progenitor a cometer o disparate de comprar o supérfluo aparelho de vídeo-cassete. A maioria dos colegas de escola já estava cansada de ter este pequeno tesouro tecnológico. Falavam até com certo desdém: “meu vídeo tem quatro cabeças”, “é importado não sei de onde”, “pego não sei quantos filmes por final de semana”... e continuam os dois irmãos sonhando com esta panacéia do mundo contemporâneo. Sonhavam ardentemente com o primeiro filme que pegariam em alguma locadora da vida e, então, entrariam finalmente para o clube.

Após apelos, interpretações dignas de Oscar e ajuda materna sempre muito bem-vinda, a barreira é vencida e meu pai decide comprar “aquele aparelho caro que não serve para nada de prático”. Não é o “quatro cabeças importado” dos playboys da escola. Na verdade é um CCE de duas cabeças. Isto não tem a mínima importância. A alegria não pode ser contida por estes pequenos detalhes. Agora, a missão mais emocionante: decidir qual filme teria a honra de inaugurar nosso recém-conquistado tesouro da adolescência.

Tinha uns quinze anos, meu irmão menos ainda. Não esperem que o primeirão tenha sido um filme europeu sobre o sentido da vida ou a filosofia da história. Éramos apenas moleques. E o pior, moleques crescidos nos famigerados anos 80. Éramos ingênuos e não precoces, como a molecada de hoje que aos 13 anos discute Michel Foucault. E o escolhido para iniciar nossa vida de vídeo-viciados foi... O Grande Dragão Branco. É isso mesmo que você leu, um filme do ator (ou lutador?) belga Jean-Claude Van Damme, o rei da porradaria, bem no início da carreira!

Perguntam se me arrependo? A resposta é simples e direta: NÃO! Era um momento da minha vida em que a única opção seria desse tipo. Para falar a verdade, sou capaz de assistir a este filme, de cabo a rabo, hoje, em pleno ano 2006. Obviamente tenho uma outra visão. Percebo um humor involuntário na fita que não via naquela época. Isto torna a sessão ainda mais divertida! Mas não vou parodiar o FHC e dizer “esqueçam o que eu assisti”.

É claro que o tempo passou, a minha visão de mundo mudou por uma série de fatores diferentes. Filmes como Rain Man, Sociedade dos Poetas Mortos e o incomparável Era Uma Vez no Oeste começaram a mudar a minha percepção. Até que chego ao último filme que aluguei, agora em DVD, mídia que faz o tão desejado vídeo-cassete parecer uma brincadeira tosca. A película em questão é o maravilhoso Hotel Ruanda, que ainda receberá o tratamento especial que merece aqui no Cinelândi@.

Certamente uma mudança qualitativa se operou. Não sou mais aquele adolescente cabeça-dura, que só via filmes de ação. Mas, também, não vamos ser simplistas ou maniqueístas. Um bom filminho de ação, de vez em quando, não faz mal a ninguém. Ainda mais se for bem feito como o emocionante A Supremacia Bourne.

Resumindo, do primeiro ao último filme alugado, muita coisa mudou. Hoje torturo os pobres e indefesos leitores do Cinelândi@ com este meu amadorismo indisfarçável. Fiquei abusado, metido a dar opiniões sobre filmes. Pelo menos agora, os antes indefesos leitores poderão jogar na minha cara: “Você não sabe nada de cinema, o primeiro filme que você alugou foi O Grande Dragão Branco!!” hehehe!

9 Comments:

  • Sócio, tem algum momento importante da sua vida que não tenha sido marcado por pérolas da cinematografia universal, como O Grande Dragão Branco ou Duro de Espiar? :-D

    By Blogger Paulo Assumpção, at 11:42 PM  

  • Parabéns pelo texto, Evandro, deveras interessante. O aparelho de vídeo, tão ultrapassado, quem diria, proporcionou grandes momentos e boas lembranças a cinéfilos como você.
    Mas cá entre nós... Quem é Michel Foucault? ;-)

    Cumps.

    By Blogger Gustavo H.R., at 12:49 PM  

  • MUUUITO bom o texto mesmo!
    bah! o video cassete até hoje me acompanha
    temho DVD e tudo mais... porém toda minha coleção de filmes do Woody está em vhs
    então ainda mantenho esse verdadeiro mamute funcionando
    voltarei!

    By Anonymous Anônimo, at 4:55 PM  

  • Caro Evandro:

    Adorei a cinecrônica sobre o velhusco videocassete player...

    E quanto a "Era uma vez no oeste", do imenso Sergio Leone figura entre os meus prediletíssimos. Ele era um monstro de perfeccionismo.

    No que se refere a filmes menos votados,há olhos para tudo e tudo deve ser visto. É inalienável o direito que cada um tem de ver. Na vida tudo são opções.

    Parabéns por tão redigida matéria.

    Abração sabatino. E,desde já,bela domingueira para todos.

    By Anonymous Anônimo, at 7:10 PM  

  • Grande Evandro,
    Pelos seus últimos posts, vejo que você assumiu um interessante tom confessional.
    O primeiro videocassete é que nem o primeiro sutiã para as moças: a gente não esquece. Fiquei aqui pensando com que filme eu inaugurei o primeiro video da minha família. Rapaz! Não me lembro! Mas não devia ser nenhuma obra-prima da cinematografia universal. O videoclube que eu procurei não era lá essas coisas. Provavelmente foi uma comédia.
    O fato de sua adolescência ser plasmada por filmes de ação, acho que a de todo mundo é assim, não é?
    Eu já confessei no Antigas Ternuras que quando era moleque adorava filme dos fortões Maciste, Hércules, Sansão, Ursus, Santo o mascarado de prata... E, como você, me orgulho de meu passado! Um forte abraço!

    By Blogger Marco, at 1:30 PM  

  • Acho que meu pai compro nosso primeiro vídeo em 1986, ou 87. Tivemos um total de 4 (ainda temos 2 funcionando em ótimo estado), até chegarmos ao bendito DVD. :)

    By Anonymous Anônimo, at 12:05 PM  

  • nessa época eu alugava nao so os VHS mas o VIDEO tb.
    Curioso isso :D

    By Anonymous Anônimo, at 4:10 PM  

  • Passei pelo mesmo martírio da tão esperada compra do video-cassete, já era uma cinéfila contumaz e tinha que pedir vídeos emprestados aos amigos ou ficar esperando pelas madrugadas para ver clássicos de que gostaria... Vida dura a nossa, não?

    By Anonymous Anônimo, at 12:40 PM  

  • Parabéns pelo post, Evandro. Me fez tentar lembrar do 1º vídeo, acho q era um Gradiente... mas qual o primeiro filme, realmente não lembro... mas eu não tenho preconceitos, assisto de tudo, tudo mesmo!Quando posso, lógico, e muuuuuuuuuuuuuuuito menos do q eu gostaria, infelizmente. Atualmente, adquirimos um DVD... pergunte-me quantos eu já assisti...! Qualquer pessoa normal, pelo menos uns 5, visto q o dito cujo já deve ter uns 6 meses...mas até agora, praticamente, nenhum inteiro... Isto é uma vergonha. Mas eu pretendo me redimir...
    Bem, um abraço e boa Páscoa pra vocês.

    By Blogger Lena Gomes, at 12:53 PM  

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