sexta-feira, julho 28, 2006

ANIMA MUNDI 2006

Apesar da vexatória participação da seleção brasileira, sou forçado a exclamar: BENDITA COPA DO MUNDO! Afinal, graças a ela, a 14ª edição do Festival Internacional de Animação do Brasil, vulgo Anima Mundi 2006, foi marcada para a segunda metade de julho, ou seja, em pleno período de recesso escolar. Desta forma, pude aproveitar o festival mais do que em outros anos, assistindo a 15 sessões de curtas e a 2 longas (o clássico The Three Caballeros e o brasileiro Wood & Stock). Baseado no que vi e na minha experiência em Anima Mundi, me atrevo a afirmar que esta foi uma de suas melhores edições. Com raríssimas exceções, as animações primaram pelo alto padrão técnico e por histórias capazes de despertar no público as mais diversas emoções. Tamanha qualidade não facilitou a tarefa de organizar uma lista com o que assisti de melhor no festival. Deixando muita coisa boa de fora, eis o que destaco:

Apple on a Tree (Alemanha) – Clipe musical protagonizado por uma maçã, cujo desejo é ser um humano. Uma vez nesta condição, se assusta com a atribulada vida dos homens e anseia por voltar à tranqüila existência de uma fruta. Criativos, os animadores utilizaram imagens de pessoas reais para compor os elementos presentes na narrativa. (Curtas 3)

Ceature Comforts - “Monarchy Business” (Reino Unido) – Como se estivessem participando de um documentário, animais opinam sobre a monarquia britânica. A elaborada antropomorfização de cada um dos “entrevistados” está entre os atrativos desta divertida animação com o selo de qualidade Aardman, o mesmo estúdio de Wallace & Gromit e A Fuga das Galinhas. (Curtas 6)

Guide Dog (EUA) – Figurinha fácil no Anima Mundi, Bill Plympton bate ponto duplamente nesta edição com o cãozinho alucinado que lhe valeu uma indicação ao Oscar, por Guard Dog. Símbolo do festival, o personagem ainda estrela esta animação onde tenta ser guia de cegos. Suas desventuras (somada aos traços cartunescos de Plympton) são de rolar de rir. (Curtas 4)

John and Michael (Canadá) – A história de dois portadores da Síndrome de Down, cuja relação evolui da amizade ao amor e sobrevive à morte de um deles. É preciso ter o coração de pedra para não se sensibilizar com esta animação singela. Mais uma pérola do National Film Board of Canada, outra presença constante no Anima Mundi. (Curtas 2)

Minuscule (França) – Joaninha vingativa reúne uma espécie de esquadrilha de moscas para atacar a teia de uma aranha nesta animação que inverte alguns de nossos conceitos sobre determinados insetos. Além de ser muito engraçada, proporciona um show de técnica ao mesclar imagens reais com personagens animados, em especial nas sensacionais seqüências de vôo. (Curtas 9)

Mr. Schwartz, Mr. Hazen & Mr. Horlocker (Alemanha) – Eleita pelo júri popular a melhor primeira obra de um animador (Stephan Miller), esta animação, para lá de bem humorada, mostra um policial averiguando denúncia feita por morador de um prédio. A narrativa surpreende ao recuar na cronologia da história para revelar o que se oculta em cada apartamento. (Curtas 17)

Never Like the First Time! (Suécia) – Quatro pessoas relatam como foi a primeira experiência sexual de suas vidas. Em cada história é utilizada uma técnica de animação distinta e adequada à narrativa. Assim, enquanto uma recordação barra-pesada é acompanhada por traços sombrios, as memórias de um idoso são ilustradas por gravuras do início do século XX. (Curtas 18)

The Three Caballeros (EUA) – Por aqui batizado como Você Já Foi à Bahia?, este longa da Disney, concebido no contexto da Política da Boa Vizinhança, mostra o Pato Donald em uma viagem imaginária à América Latina, tendo Zé Carioca como um dos cicerones. Sobreviveu bem ao tempo e ainda encanta, sobretudo nas seqüências “brasileiras”. (A Arte de Mary Blair)

X (Alemanha) – Nesta animação, um astronauta e sua nave são abduzidos por uma espécie de xerox espacial. Após se libertar da máquina, o herói da história começa a se deparar com diversas cópias de si mesmo. Inconformado, faz o que pode para manter-se único. Mas ele não é quem pensa ser. Um surpreendente conto de ficção-científica no estilo Além da Imaginação. (Curtas 8)

Yansan (Brasil) – A mitologia das divindades de origem africana Yansan, Ogum e Xangô, narrada por um insuspeito Milton Gonçalves, é transposta para o Japão contemporâneo. Como se não bastasse, a animação incorpora o visual dos animês. De todas as adaptações pouco convencionais que já assisti na vida, esta é a mais inusitada. (Curtas 7)

sexta-feira, julho 21, 2006

O HOMEM DE AÇO ESTÁ DE VOLTA

Quando as luzes do cinema se apagaram e o logotipo da Warner apareceu na tela, pensei que sofreria uma parada cardíaca. Afinal, dali a uma fração de segundos surgiriam as primeiras imagens de uma seqüência que aguardei por duas décadas. Superman finalmente estaria de volta! E mais: a nova aventura não só retomaria elementos das fitas clássicas estreladas por Cristopher Reeve, como daria prosseguimento ao que ficou estabelecido nas tramas dos dois primeiros longas (tidos como os melhores daquela cinessérie). Devo lembrar ainda aos leitores da minha condição de fã dos filmes do Super com o Reeve, que, em muito, são responsáveis por eu ter me apaixonado pelo cinema. Logo, concluí que talvez não suportasse a emoção de ver novamente projetado em tela grande o símbolo do maior herói das HQs ao som do magistral tema composto por John Williams.

Como o meu coração está mais forte do que eu supunha (ou as emoções provocadas pelo filme foram menos intensas do que eu esperava), pude acompanhar, sem maiores sobressaltos, a história de Superman – O Retorno (Superman – Returns). Cinco anos após os eventos narrados em Superman II - A Aventura Continua, o Homem de Aço (Brandon Routh) retorna de uma longa expedição às ruínas de seu planeta natal, Kripton. De volta à Terra, ele precisa retomar sua vida dupla de super-herói e jornalista do Planeta Diário. Também precisa lidar com as conseqüências de sua ausência, já que, enquanto esteve fora, sua amada Lois Lane (Kate Bosworth) constituiu uma família e o vilão Lex Luthor (Kevin Spacey) foi absolvido de seus crimes. Uma vez em liberdade, Luthor concebeu seu plano mais megalomaníaco, o qual, uma vez executado, pode custar as vidas de bilhões.

Toda a trama é pontuada por diversas referências à saga do último filho de Kripton, nos quadrinhos, na TV, mas, sobretudo, nos cinemas. Neste sentido, o excesso de homenagens aos longas clássicos tem levado certos críticos a acusar de plagiador o cineasta Bryan Singer (foto acima), no que discordo. Devoto confesso das encarnações cinematográficas do Homem de Aço e talentoso demais para meramente repetir trabalho alheio, o jovem diretor apenas se entusiasmou com a possibilidade de compartilhar com outros fãs o seu apreço por aquelas produções. Singer faz de Superman – O Retorno o primeiro fan film bancado por um grande estúdio, sem deixar de oferecer sua própria contribuição para a mitologia do herói. O que, diga-se de passagem, vem despertando muita polêmica entre os mais puristas seguidores das aventuras do Super, fora ou dentro das telas.

A bem da verdade, a série clássica do Super-Homem, mais do que uma benção, tornou-se uma maldição para este novo filme, especialmente quando se entra no campo das comparações. Neste aspecto, quem está na linha de frente são os atores. Por incrível que pareça, os novatos se saem melhor do que os veteranos. As performances equivocadas de Spacey e Frank Langella (Perry White) só conseguem nos deixar com saudades de Gene Hackman e Jackie Cooper. No entanto, Sam Huntington está ótimo na pele de Jimmy Olsen. Bosworth pode não ser tão talentosa quanto Margot Kidder, mas confere beleza a Lois. Sua pouca idade para o papel não chega a ser percebida em tela. Routh sente o peso de herdar um papel que fez de Reeve um mito, mas não cai na tentação de imitar seu predecessor e mostra-se super à vontade (desculpe o trocadilho!) vestindo o uniforme do herói. Em possíveis continuações, estará no ponto.

Na parte técnica, apesar do esforço de John Ottman, ainda são as inserções dos temas musicais criados por seu xará na década de 70 que fazem arrepiar. A fotografia de Superman – O Retorno pode ser perfeita, graças ao uso das modernas câmeras Genesis, mais ainda sou mais o lirismo do trabalho de Geoffrey Unsworth no filme original. No que diz respeito aos efeitos especiais, aí as fitas clássicas obviamente perdem feio. Décadas de avanços tecnológicos, em especial, no uso da computação gráfica no cinema, finalmente deixaram indiscutível o slogan de Superman - O Filme: Você vai acreditar que o homem pode voar!

Como não poderia deixar de ser, o roteiro ecoa temas e situações vistas nos filmes com Reeve. Preocupa-se menos com a ação e mais com o romance (não muito diferente dos longas anteriores) e com a situação sui generis do protagonista. Os roteiristas, que trabalharam com Singer nos primeiros X-Men, retomam a questão central do diferente, só que a nível pessoal. Fã do sci-fi, o cineasta não poderia deixar de explorar o fato do Super ser um alienígena. Embora o texto pudesse avançar mais neste ponto, bem como nas reações da humanidade à ausência do herói. Seria interessante ver, por exemplo, as pessoas questionando onde ele estava no 11 de Setembro. Por outro lado, o filme leva às últimas conseqüências a proposta de Tom Manckiewicz para a fita de 1978, ao estabelecer uma analogia entre Superman e Jesus Cristo. De fato, a parte final do longa pode ser encarada como uma releitura da Paixão de Cristo.

E se Lois encontra dificuldades para escrever seu artigo “Por que precisamos do Superman?”, no lugar dela, eu não teria. Afinal, não seria ótimo ver as balas perdidas interceptadas antes de atingir seus inocentes alvos? Ou os passageiros de ônibus criminosamente incendiados serem prontamente salvos das chamas por um supersopro? Já que nada disto é possível, precisamos dos filmes do Superman para sonhar por um par de horas antes de encarar o pesadelo do mundo real.


sexta-feira, julho 14, 2006

sexta-feira, julho 07, 2006

AS QUALIDADES DE UM "FRACASSO"

Quando um filme é um fracasso de bilheteria, muitas pessoas nem se dão ao trabalho de conferi-lo em DVD. Parte-se do princípio de que o insucesso é conseqüência direta da falta de qualidade. Creio, no entanto, que este raciocínio não se aplica ao filme S1m0ne.

Estamos falando de um filme bem realizado e estrelado por Al Pacino, garantia de boas interpretações. O roteiro, do também diretor e produtor Andrew Niccol, é bem amarrado e procura evitar certos clichês comuns em Hollywood. Os únicos dois pecados que poderíamos apontar são o ritmo um tanto lento e a excessiva duração da fita. Nada tão grave que possa justificar o evidente malogro da produção.

No meu entendimento, o fracasso da película se deve exatamente às suas melhores qualidades, por mais que isso pareça contraditório. Como já ressaltamos, o filme foge de certas fórmulas do cinema norte-americano. Determinados elementos que são tão preciosos para o público médio dos Estados Unidos são propositadamente evitados. Esta audiência acostumada a consumir filmes esquemáticos adora ver histórias de arrependimento e redenção. A verdade sempre tem que prevalecer. Acontece que esse não é o caminho traçado por S1m0ne.

O arrependimento até está presente no filme, pois a criatura se torna maior que o criador, mas a redenção pela verdade não ocorre. Esta deve ser a principal razão do repúdio do público americano ao filme. E, como veio fracassado de lá, não lhe deram muita importância aqui no Brasil.

É lamentável que isto tenha acontecido. Esta fita, que é apenas uma comédia despretensiosa, acaba suscitando questionamentos interessantes no público. Durante a exibição do filme, muitas pessoas poderão se perguntar: Afinal, o que é um ser vivo? Como podemos definir o que é vida? O que é virtual e o que é real? Este aspecto, a despeito de pequenos deslizes presentes na trama, pode comprovar a qualidade e a relevância desta simpática película, não importando quantos dólares ela deixou de faturar.




sábado, julho 01, 2006

MAR EM FÚRIA

Na década de 1970, as salas de cinema foram assoladas por uma série de filmes que mostravam desastres aéreos, incêndios, tremores de terra, inundações, avalanches, erupções vulcânicas, ataques de insetos assassinos... Era a onda dos filmes-catástrofe. Um dos grandes produtores deste tipo de fita foi Irwin Allen, criador de populares seriados de ficção científica da TV, como Perdidos no Espaço (Lost in Space), Viagem ao Fundo do Mar (Voyage to the Bottom of the Sea), Túnel do Tempo (Tha Time Tunnel) e Terrra de Gigantes (Land of the Giants). Em 1972, Allen praticamente inaugurou o gênero ao levar às telonas O Destino do Poseidon (The Poseidon Adventure), que narrava as desventuras dos passageiros e tripulantes de um transatlântico emborcado por uma onda gigante em pleno reveillon. O filme marcou época por virar os cenários de cabeça para baixo.

Décadas depois, a tragédia do Poseidon está de volta aos cinemas em uma refilmagem que naufragou nas bilheterias norte-americanas. Por aqui, no entanto, este remake tem feito sucesso, com uma história que é basicamente a mesma do original. O que muda são as vítimas, digo, personagens. Ou seja, no momento em que se comemora a chegada do Ano Novo, o luxuoso transatlântico é atingido por uma “onda traiçoeira” (conceito supostamente plausível aos olhos da ciência). Com os conveses invertidos, alguns dos sobreviventes tentam desesperadamente chegar às partes inferiores, ou melhor, superiores do navio onde poderão escapar do mesmo antes que termine de naufragar. Se no filme de 72, eles eram liderados por um religioso, agora o são por um carinha de caráter duvidoso. No grupo atual ainda há um heróico ex-bombeiro e prefeito de Nova York (!) e um homossexual.

A boa recepção de Poseidon no Brasil por parte do público não encontra correspondência nas críticas pouco abonadoras que tem recebido. Há quem já o eleja o pior filme do ano. Particularmente, não compartilho de tais opiniões. Longe, mas muito longe, de ser uma obra-prima, o filme dá para o gasto enquanto um produto de entretenimento. Está certo que os diálogos são ridículos e que cada frame corresponda a um clichê. Ainda assim, é possível se assombrar com os excelentes efeitos visuais (a seqüência do desastre já está entre as melhores produzidas pelo cinema) e se segurar na poltrona diante das tensas situações nas quais os personagens se envolvem ao buscar um meio de sobreviver àquela tragédia. Aliás, a mesma ganha tons mais realistas do que no original com os corpos que aparecem em diversas cenas.

A bem da verdade, Poseidon é melhor digerido se encarado como um representante digno de seu gênero. Todos os elementos típicos do cinema catástrofe – um dos meus favoritos – estão presentes. Excetuando pelas costumeiras apresentações dos personagens, que normalmente tomam a hora inicial do filme (o ritmo acelerado do atual cinema norte-americano parece não permitir mais tal coisa), Poseidon traz uma catástrofe de grandes proporções, personagens sendo progressivamente eliminados, coadjuvantes de luxo (Kurt Russell, Richard Dreyfuss), uma solução para lá de inverossímel e uma boa dose de aventura. Aliás, em essência os filmes-catástrofe sempre foram mesmo uma variante do cinema de ação.

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