sexta-feira, julho 21, 2006

O HOMEM DE AÇO ESTÁ DE VOLTA

Quando as luzes do cinema se apagaram e o logotipo da Warner apareceu na tela, pensei que sofreria uma parada cardíaca. Afinal, dali a uma fração de segundos surgiriam as primeiras imagens de uma seqüência que aguardei por duas décadas. Superman finalmente estaria de volta! E mais: a nova aventura não só retomaria elementos das fitas clássicas estreladas por Cristopher Reeve, como daria prosseguimento ao que ficou estabelecido nas tramas dos dois primeiros longas (tidos como os melhores daquela cinessérie). Devo lembrar ainda aos leitores da minha condição de fã dos filmes do Super com o Reeve, que, em muito, são responsáveis por eu ter me apaixonado pelo cinema. Logo, concluí que talvez não suportasse a emoção de ver novamente projetado em tela grande o símbolo do maior herói das HQs ao som do magistral tema composto por John Williams.

Como o meu coração está mais forte do que eu supunha (ou as emoções provocadas pelo filme foram menos intensas do que eu esperava), pude acompanhar, sem maiores sobressaltos, a história de Superman – O Retorno (Superman – Returns). Cinco anos após os eventos narrados em Superman II - A Aventura Continua, o Homem de Aço (Brandon Routh) retorna de uma longa expedição às ruínas de seu planeta natal, Kripton. De volta à Terra, ele precisa retomar sua vida dupla de super-herói e jornalista do Planeta Diário. Também precisa lidar com as conseqüências de sua ausência, já que, enquanto esteve fora, sua amada Lois Lane (Kate Bosworth) constituiu uma família e o vilão Lex Luthor (Kevin Spacey) foi absolvido de seus crimes. Uma vez em liberdade, Luthor concebeu seu plano mais megalomaníaco, o qual, uma vez executado, pode custar as vidas de bilhões.

Toda a trama é pontuada por diversas referências à saga do último filho de Kripton, nos quadrinhos, na TV, mas, sobretudo, nos cinemas. Neste sentido, o excesso de homenagens aos longas clássicos tem levado certos críticos a acusar de plagiador o cineasta Bryan Singer (foto acima), no que discordo. Devoto confesso das encarnações cinematográficas do Homem de Aço e talentoso demais para meramente repetir trabalho alheio, o jovem diretor apenas se entusiasmou com a possibilidade de compartilhar com outros fãs o seu apreço por aquelas produções. Singer faz de Superman – O Retorno o primeiro fan film bancado por um grande estúdio, sem deixar de oferecer sua própria contribuição para a mitologia do herói. O que, diga-se de passagem, vem despertando muita polêmica entre os mais puristas seguidores das aventuras do Super, fora ou dentro das telas.

A bem da verdade, a série clássica do Super-Homem, mais do que uma benção, tornou-se uma maldição para este novo filme, especialmente quando se entra no campo das comparações. Neste aspecto, quem está na linha de frente são os atores. Por incrível que pareça, os novatos se saem melhor do que os veteranos. As performances equivocadas de Spacey e Frank Langella (Perry White) só conseguem nos deixar com saudades de Gene Hackman e Jackie Cooper. No entanto, Sam Huntington está ótimo na pele de Jimmy Olsen. Bosworth pode não ser tão talentosa quanto Margot Kidder, mas confere beleza a Lois. Sua pouca idade para o papel não chega a ser percebida em tela. Routh sente o peso de herdar um papel que fez de Reeve um mito, mas não cai na tentação de imitar seu predecessor e mostra-se super à vontade (desculpe o trocadilho!) vestindo o uniforme do herói. Em possíveis continuações, estará no ponto.

Na parte técnica, apesar do esforço de John Ottman, ainda são as inserções dos temas musicais criados por seu xará na década de 70 que fazem arrepiar. A fotografia de Superman – O Retorno pode ser perfeita, graças ao uso das modernas câmeras Genesis, mais ainda sou mais o lirismo do trabalho de Geoffrey Unsworth no filme original. No que diz respeito aos efeitos especiais, aí as fitas clássicas obviamente perdem feio. Décadas de avanços tecnológicos, em especial, no uso da computação gráfica no cinema, finalmente deixaram indiscutível o slogan de Superman - O Filme: Você vai acreditar que o homem pode voar!

Como não poderia deixar de ser, o roteiro ecoa temas e situações vistas nos filmes com Reeve. Preocupa-se menos com a ação e mais com o romance (não muito diferente dos longas anteriores) e com a situação sui generis do protagonista. Os roteiristas, que trabalharam com Singer nos primeiros X-Men, retomam a questão central do diferente, só que a nível pessoal. Fã do sci-fi, o cineasta não poderia deixar de explorar o fato do Super ser um alienígena. Embora o texto pudesse avançar mais neste ponto, bem como nas reações da humanidade à ausência do herói. Seria interessante ver, por exemplo, as pessoas questionando onde ele estava no 11 de Setembro. Por outro lado, o filme leva às últimas conseqüências a proposta de Tom Manckiewicz para a fita de 1978, ao estabelecer uma analogia entre Superman e Jesus Cristo. De fato, a parte final do longa pode ser encarada como uma releitura da Paixão de Cristo.

E se Lois encontra dificuldades para escrever seu artigo “Por que precisamos do Superman?”, no lugar dela, eu não teria. Afinal, não seria ótimo ver as balas perdidas interceptadas antes de atingir seus inocentes alvos? Ou os passageiros de ônibus criminosamente incendiados serem prontamente salvos das chamas por um supersopro? Já que nada disto é possível, precisamos dos filmes do Superman para sonhar por um par de horas antes de encarar o pesadelo do mundo real.


12 Comments:

  • Grande Paulo, como sempre fazendo o que gosta hein? Vou manter minha política de não ler sobre os filmes que ainda não assisti. Mas é um filme que irei conferir assim que tiver um tempinho, venho aqui anunciar também que estou voltando a entrar nos blogs novamente, sentir um pouco do cinema de novo. Um grande abraço!

    By Anonymous Anônimo, at 8:33 AM  

  • não concordo com a maioria das suas palavras, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-las :D ré ré ré

    cada vez que falo desse filme, gosto menos ainda.

    sou fã do super :D

    By Anonymous Anônimo, at 9:35 AM  

  • Grande Paulo: Fui assistir ontem ao Super-Homem. Fui, doido para detestar. E, olha, gostei mais do que não gostei. Tanto que sairei de minha inapetência atual para fazer posts sobre filmes e devo resenhar esta película.
    Concordei mais que discordei de suas opiniões.
    Um abração!

    By Blogger Marco, at 11:16 AM  

  • Sem ter visto nenhum filme estrelado pelo personagem (algum dia vou consertar este erro), não tenho como comentar suas opiniões, mas sempre é emocionante ver o ponto de vista de um verdadeiro fã.


    Cumps.

    By Blogger Gustavo H.R., at 12:58 PM  

  • Fiquei ainda mais curioso para ver o filme, sócio! Acho que dessa semana não passa!

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 5:53 PM  

  • Não assisti o filme .
    Depois de uma temporada afastada dos blogs venho expressar minha surpresa com a qualidade do CINELANDI@.
    Estou indicando a um grande amigo ,meu compadre jornalista e músico Marcos Guedes que tb. colocou seu blog na rua.

    Sucesso,beijão tia NIZA

    By Anonymous Anônimo, at 8:45 PM  

  • Oi Paulo
    Infelizmente ainda não vi o novo do Superman, mas logo eu vejo...
    É, aquele texto foi mais ou menos intencional.Eu havia acabado de ver a peça As Clarices, com textos da Clarice Lispector, e adorei esse, e notei que tem sim uma relação com cinema...
    é lindo né?
    Bjo

    By Blogger Cinthia Molina, at 6:57 PM  

  • Paulo, sobre a conversa no Cinéfilos:

    fala serio... so pq o super nao tava lá? Nem na justiça brasileira isso aconteceria... e a Lois, nao tava lá? Sem chance de acreditar nisso...

    By Anonymous Anônimo, at 11:01 AM  

  • Belo texto. Superman é certamente o cara. Já sou fã doos quadrinhos, e provavelmente dos filmes também. Assisti a apenas o novo, mas isso mudará em breve. Que filme!

    By Anonymous Anônimo, at 11:54 PM  

  • apaixonada?pois é...estou sim...espero que essa paixão se transforme em amor...
    enquanto isso vou tentar postar mais...
    bj

    By Blogger Cinthia Molina, at 11:55 PM  

  • E o Anima Mundi? Quero dicas! Abração!

    By Anonymous Anônimo, at 12:30 PM  

  • Oiii, assisti o Super na última quarta! Volto pra comentar em breve. Beijos. Boa volta ao trabalho!!!

    By Blogger Lena Gomes, at 9:06 PM  

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