sexta-feira, janeiro 13, 2006

A ÚLTIMA LOUCURA DE MEL BROOKS

Dentre os gêneros cinematográficos que pouco aparecem por aqui, sou forçado a admitir que quase não dedicamos posts às comédias. Fica a impressão de que não gostamos delas. De minha parte, posso garantir que tal conclusão apressada está longe da verdade. Tomei gosto pelo cinema justamente assistindo a muitas fitas de humor. Quando criança, não perdia uma exibição televisiva dos filmes da dupla O Gordo & O Magro, do Jerry Lewis e dos nossos Trapalhões. Com um pouquinho mais de idade, comecei a me encantar com as desventuras do Carlitos, alter ego do genial Charles Chaplin. Já cinéfilo, virei fã das neuroses de Woody Allen (até por ter reconhecido nelas algumas de minhas próprias). Neste meio tempo, um mestre do nonsense me levava às gargalhadas. Isto antes mesmo de eu ter conhecimento de sua existência! Estou me referindo a Mel Brooks.

Meu primeiro contato com o humor peculiar de Brooks foi a série de TV Agente 86 (Get Smart!), protagonizada pelo recém-falecido Don Adams. Contudo, só me dei conta do nome do cineasta nos créditos, como criador do seriado, quando já assistia aos seus filmes. Estes, por sua vez, me divertiam muito com as situações inusitadas que mostravam e, sobretudo, com as brincadeiras em cima de outras produções. Brooks especializou-se em satirizar o cinema hollywoodiano. A princípio, a fórmula, inaugurada com O Jovem Frankenstein (Young Frankenstein, 1974), deu certo, porém não resistiu ao tempo. Os últimos trabalhos de Brooks, como Drácula - Morto mas Feliz (Dracula: Dead and Loving It, 1995), resultaram em algumas das comédias mais sem-graça da História e em retumbantes fracassos de bilheteria.

Se o bom nome de Brooks parecia já ter sido esquecido por Hollywood, onde um passado glorioso importa menos do que um presente (ou futuro) lucrativo, no outro extremo dos EUA alguém se lembrou do humorista e seu primeiro roteiro para o cinema – The Producers (que aqui no Brasil foi batizado com o nome de Primavera para Hitler, a peça fictícia produzida no filme), laureado com o Oscar – ganhou uma extremamente bem-sucedida montagem na Broadway. A partir daí, Brooks se mostrou novamente interessante para as caixas registradoras da Meca do cinema. Ainda mais em um momento em que os musicais estão em alta de novo e as idéias originais soam como arriscadas demais (o que a crescente quantidade de refilmagens não me deixa mentir).

A história de Os Produtores (desta vez, o título nacional se limitou a uma tradução) é praticamente a mesma do original de 1968. O outrora produtor de peças de sucesso (qualquer semelhança com Mel Brooks...), Max Bialystock (Nathan Lane) associa-se ao histérico contador Leo Bloom (Matthew Broderick) para montar o pior espetáculo teatral de todos os tempos, ficar com a grana das investidoras (idosas cheias de amor pra dar) e fugir para o Rio de Janeiro (eterno paraíso para a malandragem dos filmes norte-americanos). As diferenças mais notáveis na trama desta nova versão ficam por conta da injeção de mais romance e de um final menos cínico.

Para quem assistiu a Primavera para Hitler – na minha opinião, um dos melhores filmes de humor já feitos –, Os Produtores começa com jeito de piada repetida, tamanha a fidelidade das primeiras cenas ao roteiro escrito por Brooks nos anos 60. Além disso, embora estejam bem em seus papéis, as performances de Lane e, principalmente, Broderick, perdem na comparação com o trabalho dos impagáveis Zero Mostel e Gene Wilder, “os produtores” originais. Contudo, assim que o filme se revela um musical no estilo das clássicas produções hollywoodianas deste gênero é que ele mostra a que veio. Os números são divertidos e criativos (em especial, a seqüência das velhinhas com andadores). Novas tiradas cômicas também são inseridas no texto, conferindo um frescor de originalidade à refilmagem. E, claro, tornando tudo muito, mas muito engraçado. Enfim, uma comédia que lava a honra de Mel Brooks. Digna das gargalhadas, do preço do ingresso e de ser comentada neste blog.

Em tempo, para quem ainda pretende ver o filme, um aviso: não deixe a sala de exibição antes que os créditos tenham terminado de rolar!

10 Comments:

  • woah so much of a language i don't know

    By Blogger johnpault, at 1:43 AM  

  • "O Jovem Frankenstein"´é uma das melhores comédias que assisti!
    Não acho que esse mais novo remake possa acrescentar algo, melhor mesmo para quem não assistiu procurar o DVD do original.
    "Drácula - Morto mas Feliz" é horrendo!!!
    Na falta de originalidade o velho socorro:REMAKE.Na maioria das vezes pura perda de tempo.

    By Anonymous Anônimo, at 4:54 AM  

  • Paulão,meu tampa de Crush (=excelente):

    Não te esqueças dos finórios Blake Edwards & Peter Sellers...

    Mel Brooks: mel de engenho pernambucano,nascido no massapê canavial das úmidas matas pré-Recife,descansado em escura despensa. Néctar inumerável.

    Abraços.

    By Anonymous Anônimo, at 11:18 PM  

  • Como você viu, também fiz um post sobre este hilário filme. Particularmente eu acho que o Nathan Lane se saiu melhor que o ótimo Zero Mostel. Já o Gene Wilder deu um banho no Broderick.
    Embora os últimos filmes do Brooks sejam bem mais fracos que os primeiros, eu sempre vejo uma graça neles.

    By Blogger Marco, at 5:41 PM  

  • Caro xará; caro Evandro:

    Embora o blog de ambos tenha feitio de blog,considero-o como supimpa site - e de primeira.

    Além de ter linkado este espaço espaçoso no VALE A PENA do meu ZOOM,vou pô-lo também,encabeçando a lista,nos meus links cinematográficos,agora como "Cinelândi@" mesmo.

    Abraço para os dois.

    PS: obrigado,Paulão,pelo comentário no meu mural; e o Rio é o eternal projeto de quem ama lindezas ímpares. DEUS descansou por aí! E deu no que deu!...

    By Anonymous Anônimo, at 5:50 PM  

  • Leia-se: "embora o espaço de ambos tenha feitio de blog..."

    By Anonymous Anônimo, at 5:52 PM  

  • Rapaz! Eu perdi a última cena de "Os produtores"!!! O curioso é que eu SEMPRE fico até o final dos filnmes. SEMPRE sou o último a sair do cinema, lendo os créditos, aproveitando o filme até a última gota. Não sei o porquê, mas sai deste filme no meio dos créditos e perdi a cena em que o Mel Brooks aparece. Raios...Raios duplos!...Como diria o Dick Vigarista. Agora vou ter que esperar o DVD. Hoje no Globo tem uma reclamação de um leitor com o cinema que desligou o projetor no meio dos créditos (era a última sessão) e o impediu de ver a tal cena.
    Um abração!

    By Blogger Marco, at 9:55 AM  

  • Ola Paulo! Adorava a serie do agente. Inclusive ainda passa no canal 21. Muito boa!

    By Anonymous Anônimo, at 11:40 AM  

  • Mel Brooks é um artista que devo conhecer melhor. O problema é o filme passar por estas bandas...

    Cumps.

    By Blogger Gustavo H.R., at 3:55 PM  

  • Eu sou um dos poucos que se divertem com Drácula - Morto Mais Feliz. E o estranho (ou não) é que assisti Os Produtores e adorei, mas assistindo depois Primavera para Hitler, não posso dizer o mesmo.

    By Anonymous Anônimo, at 2:05 PM  

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