sexta-feira, abril 14, 2006

UM ÉPICO DIVINO

No final da década de cinqüenta, a Metro-Goldwin-Mayer, outrora produtora de sucessos retumbantes do cinema, como O Mágico de Oz (The Wizard of Oz) e Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain), encontrava-se à beira da falência. Somente um milagre poderia salvar o estúdio do leão. E o milagre veio na forma de uma das maiores superproduções de todos os tempos: Ben-Hur. Curiosamente, um remake do filme que praticamente inaugurou as atividades da MGM, em meados dos anos vinte. Esta (segunda) versão da saga do príncipe judeu que, nos primórdios do cristianismo, cai em desgraça após ser traído por um ex-amigo romano, pode ser responsabilizada por conferir à Metro o perfil de produtora de filmes caros e bem-sucedidos. Portanto, refazer seu primeiro grande sucesso não me parece ter sido uma escolha aleatória. Ben-Hur seria o símbolo perfeito para a ressurreição do estúdio.

A bem da verdade, foi uma aposta bastante arriscada da MGM, do tipo “ou tudo ou nada”. Os executivos da Metro abriram os cofres e deram total apoio logístico para que a fita se transformasse em um espetáculo capaz de arrebatar multidões para as salas de cinema. Por conta disso, a produção de Ben-Hur ganhou uma dimensão bíblica. Tudo era superlativo, dos milhares de extras aos sets colossais. Só a pré-produção do filme consumiu cerca de um ano e transformou em um canteiro de obras a lendária Cinecittà, em Roma, onde foram rodadas seqüências antológicas, como a corrida de quadrigas. Como se não bastasse, utilizando-se de uma estratégia que soa bem atual, a Metro promoveu uma gigantesca campanha de marketing, responsável pela criação de uma verdadeira ben-hurmania. Ben-Hur virou filme consagrado antes mesmo de chegar às telas. Ou melhor, telonas!



Porém, como toda mega-produção, a de Ben-Hur não foi um Paraíso. O produtor do filme, Sam Zimbalist (que também participou da versão de 1926), não agüentou o tranco, teve um ataque cardíaco e faleceu no meio das filmagens. O roteiro, originalmente escrito por Karl Tunberg, estava repleto de trechos que desagradavam ao diretor William Wyler e precisou ser reescrito. Trabalho que coube, em boa parte, ao escritor Gore Vidal. É dele, por exemplo, o subtexto que coloca os amigos e, depois, antagonistas Ben-Hur (Charlton Heston) e Messala (Stephen Boyd) como antigos amantes. Uma idéia ousada para a adaptação de uma história que tem como subtítulo “Um Conto do Cristo”. Polêmicas à parte, o que mais chama à atenção no texto do filme é a sua qualidade. Percebe-se todo um cuidado para que os diálogos sejam poéticos e falem para além do que aparentemente querem dizer.

Outros destaques de Ben-Hur são a impressionante riqueza de detalhes das imagens (exigência de uma época em que a TV começava a roubar público do cinema); a trilha sonora de Miklós Rózsa, majestosa, sem ser apelativa; as intensas emoções despertadas pelo primoroso trabalho de Wyler; e a temática de fé, que - é bem verdade -, acompanha um modismo da época, mas nunca resvala para a apologia desta ou daquela religião.

Com tantos acertos, Ben-Hur mais do que cumpriu o objetivo que levou à sua refilmagem. Faturou alto nas bilheterias; recebeu diversos prêmios, entre eles 11 Oscars (marca nunca superada e apenas igualada recentemente por Titanic e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei); foi alçado à condição de um dos filmes mais populares de todos os tempos; influenciou toda uma geração de cineastas, dentre os quais se destacam George Lucas e Ridley Scott; e, em especial, nos traz uma mensagem mais do que necessária aos nossos tempos: só podemos ser realmente felizes sem ódio no coração.

7 Comments:

  • Meu xará:

    Ultimamente,instaurei a prudência de ser homeopático em meus comentários para que não me fique o estigma de exagerado.

    Isto posto,não é possível reprimir: teu texto foi algo assim de muito viçoso,transbordante de esclarecimentos deitados em deleite do bem-dizer. (Mil perdões pela displicência: Você é jornalista?)

    Quanto a Ben-Hur,eu pretendo rever o quanto puder,se possível retrocedendo o "slow motion",para não escapar-me a mais minuciosa bagatela do perfeccionismo. É um Sétima Arte-A.

    Homossexual assumido,Vidal não poderia mesmo deixar de encaixar um erotismo másculo na mega-produção. Mas se foi para melindrar,propositadamente,convicçõ-es íntimas da fé de cada um,ele errou o alvo,já que o que escandaliza mesmo é a plenitude de requinte alojada na mão de aço e pluma do exuberante Wyler!

    Abraço pascoalino.

    By Anonymous Anônimo, at 1:56 PM  

  • A falta do negrito para Vidal não foi discriminação: cada um dá o que tem. E eu nem aí!

    Inté!

    By Anonymous Anônimo, at 2:02 PM  

  • Não estava ciente do tamanho dos problemas que enfrentaram para produzir esse clássico.
    O filme é uma boa pedida para a Páscoa, inclusive.

    By Blogger Gustavo H.R., at 8:39 PM  

  • grande filme. Engracado que fiz ha poucos anos atras. E geralmente quando vejo filmes classicos nao tem o mesmo impacto que esse teve. Boa lembrança.

    []´s a todos

    By Anonymous Anônimo, at 4:20 PM  

  • fiz nao, vi :P

    By Anonymous Anônimo, at 4:21 PM  

  • Paulo, Ben-hur é o épico. E olha que eu já assisti milhares (El Cid, Lawrence da Arábia, Spartacus, A Queda do Império Romano, Quo Vadis, entre tantos outros). Charlton Heston não se tornou o ícone do cinema da época à toa. Gostei muito do seu blog. Pretendo voltar mais vezes. Também tenho um blog sobre cinema. Se quiser conferir meu humilde espaço, fique à vontade. Abraço. P.S: Ah, ja que comentei a respeito de El Cid - também com Heston - dê uma conferida. É sensacional também.

    By Anonymous Anônimo, at 6:19 PM  

  • Paulo,junto com 'Quo Vadis', Ben-hur é um dos meus "clássicos históricos" preferidos...ótimo verificar que você conseguiu resumir perfeitamente a grandiosidade desse belíssimo filme!
    Abraços

    By Anonymous Anônimo, at 11:04 PM  

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