E O OSCAR VAI PARA... CAPOTE ?

Apesar do título insinuar uma biografia, o filme Capote, dirigido com competência pelo novato Bennett Miller, aborda justamente a gestação de A Sangue Frio. Tudo começa em 1959, quando Capote (Philip Seymour Hoffman) parte para Holcomb, no estado do Kansas, onde uma família foi barbaramente assassinada. Capote vê no crime um excelente tema para o seu próximo livro e passa a acompanhar com interesse os rumos do caso, tendo ao seu lado a amiga Harper Lee (Catherine Keener), autora de O Sol é para Todos (também adaptado para o cinema, com Gregory Peck no papel que lhe rendeu um Oscar). Quando os assassinos são presos – e, posteriormente, condenados à morte –, Capote passa a visitá-los freqüentemente, acabando por estabelecer com um deles, Perry Smith (Clifton Collins Jr.), uma relação que vai além daquela existente entre o escritor e sua fonte.
Ainda que limitado no recorte temporal da vida de seu protagonista, Capote consegue revelar ao público o ser humano que se ocultava na imagem excêntrica do escritor. Mais do que um gênio literário, Capote é mostrado como um indivíduo frágil, cuja infância marcada pela negligência materna resultou em uma obsessiva necessidade de aceitação. A fim de ser aceito, inclusive por quem fazia cara feia para os seus trejeitos efeminados, Capote utilizou-se largamente de seu talento para a escrita. Quando aparece a oportunidade de revolucionar a literatura, ele se agarra com unhas e dentes a ela. Por isso, não hesita em estabelecer uma espécie de simbiose com Perry Smith. Este lhe fornece dados para o seu livro, enquanto Capote cuida das questões legais para que a execução seja adiada. Aqui, vemos um Capote no limiar da ética, mas ao mesmo tempo dolorosamente ciente de que Perry, também em busca de aceitação, o vê como uma última possibilidade de ter um amigo e ser tratado como gente.
Se a chance de Capote levar o Oscar de Melhor Filme é nula, o mesmo não pode ser dito sobre o destino do “careca dourado” de atuação masculina. Antes mesmo de ser aberto o envelope, o Oscar de Melhor Ator de 2005 já deve estar com um nome gravado: Philip Seymour Hoffman. Ainda que isto fosse verdade, não seria falta de consideração para com os demais indicados. O fato é que Hoffman está irrepreensível. Ele não interpreta Capote. Ele incorpora Capote! A fala fina, o modo de andar, os gestos afetados e até os sutis tiques nervosos que compõem a caracterização de Hoffman, sem paralelos em sua carreira, só podem ser explicados de duas maneiras: ou o cara pesquisou bastante para fazer a sua composição, além, é claro, de ser incrivelmente talentoso, ou dava uma passadinha em um terreiro antes de entrar em cena.

8 Comments:
Não poderia ser melhor analisada essa obra que é o filme "Capote". Seymour Hoffman incorporou mesmo o espirito do escritor, tal como Jamie Foxx fez o mesmo em Ray, premiado do ano passado. O filme é bom, as atuações são ótimas, enfim: se ganhasse o Oscar de Filme, não ficaria espantado. Até porque, o filme é bem melhor que o favorito da noite, Brokeback Mountain. Abraços, e até!
PS: perdoem o meu sumiço.
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Luiz Henrique Oliveira, at 1:11 PM
Paulo, concordo que o ator tenha sido irretocável, mas a história deixou muito a desejar. Coloquei todos os meus argumentos no Roda e o Marcelo acrescentou mais ainda no Cabide. Bom domingo de Oscar! Abração!
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Belisa Figueiró, at 8:35 PM
CAPOTE era um dos indicados que aguardava com mais ansiedade, exatamente por causa da figura de seu protagonista. Com certeza, Hoffman vencerá a estatueta amanhã.
Cumps.
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Gustavo H.R., at 9:38 PM
Paulo, assim... Johnny e June tem elementos de Ray, acho importante esse tipo de filme biografico, mas nao custa eperar pro dvd, cinema eh caro :D
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Anônimo, at 8:42 AM
E o "Crash", heim? Vibrei como se fosse um gol do Mengão aos 48 min do segundo tempo! MUITO BÃO!
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Marco, at 8:41 PM
Um filme realmente excelente, mas era um dos últimos dentre meus preferidos ao prêmio de melhor filme. Hofman dá um show de interpretação no filme. Sensacional!!!
Torcia por Munique e Crash. E concordo com o Marco, a emoção foi parecida com a do Gol do Pet naquela final do campeonato carioca contra o Vasco. hehehe
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Anônimo, at 6:32 PM
Meu bom Xará,estava com saudades daqui...
Seymour Hoffman m-e-r-e-c-e-u!
Vibrei com a fogueira em brasa do entusiasmo.
Ele foi irretocavelmente correto num papel que,como o Grande Marco observou,poderia desbotar sua atuação se escorregasse,se resvalasse à caricatura pelos trejeitos um tanto exagerados.
Muito obrigado,meu caro,por me acender o archote do entendimento dos teus imelhoráveis posts pré-Oscar. E didaticamente saborosos.
Abração.
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Anônimo, at 3:15 AM
Oi Paulo! Tá vendo como eu cumpro minhas promessas???rs. Estou como a "esfera" da minha profissão:Tardo mas não falho!!!rs.
Com relação ao filme, a interpretação de Hoffman é simplesmente soberba. Li, recentemente, a biografia (autorizada)dele e ratificou ainda mais a minha impressão sobre a interpretação cinematográfica. O filme é bom,não extraordinário, mas a atuação de Hoffman é o grande diferencial da produção! Abraços.
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Anônimo, at 7:46 PM
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