sexta-feira, dezembro 01, 2006

UM GRANDE HERÓI

Uma das maiores febres do cinema americano são as adaptações de heróis de histórias em quadrinhos para as telonas. Grandes blockbusters dos últimos anos se encaixam perfeitamente neste gênero. Os fãs das HQs ou admiradores dos heróis vibram por seus personagens preferidos e torcem por adaptações bem feitas. Este mesmo que vos escreve é um fã incondicional do “Cavaleiro das Trevas” e aguarda ansiosamente a continuação do excelente Batman Begins. Apesar disso, hoje falarei de uma outra qualidade de herói. Não o super-herói poderoso fisicamente, ou cheio de apetrechos e poderes ocultos, mas aquele que combate o “mal” através da sua fragilidade e de seus sentimentos.

Na minha modesta visão, um dos maiores heróis da história do cinema é o frágil porquinho Babe, do filme Babe, o Porquinho Atrapalhado (Babe). Este modesto post é uma singela homenagem a este pequeno grande herói. Quem quiser rir, achar que estou ficando maluco, que sou infantil... vá em frente! Divirta-se! Não há problema, pois quem admira um dos personagens mais generosos e bondosos do cinema não pode passar a vergonha de arrumar briga por pouca bobagem.

O filme Babe é uma da mais belas histórias que a sétima arte já produziu. Trata-se da história do porquinho Babe, que foi adotado pela cadela Fly e tenta ser um cão pastor, ou melhor, um porquinho pastor. Parece uma história bobinha, mas poucos roteiros trabalham tantos valores e sentimentos importantíssimos, com tanta leveza e sem esbarrar no sentimentalismo barato.

Obviamente a história fala sobre perseverança, insistência e força para não desistir de um sonho. Mas não se resume a isso. É tocante a forma como a trama trata a questão da maternidade. O carinho e a preocupação da cadela Fly pelo doce porquinho Babe são emocionantes, provando que o verdadeiro amor materno não fica restrito às questões de sangue. Que grande lição esta descolada cadela não está dando para todos nós, quase sempre mergulhados em nossos sentimentos egoístas e mesquinhos!

Mas nem tudo são flores na pequena propriedade onde Babe vive. O filme também trata de um assunto delicado: a hora de admitir que estamos velhos demais, e que já está chegando o tempo de se aposentar. Nem todos passam por este momento sem enfrentar situações traumáticas. Assim acontece com o cão Rex (voz de Hugo Weaving), o “esposo” da mãe postiça de Babe. O velho cão pastor não quer admitir o problema de audição, causado por uma terrível enchente, nem quer aceitar que está na hora de passar o bastão para frente, no caso para o nosso simpático porquinho. A sua implicância com Babe talvez se explique também por estes motivos e não só pela questão “racial”.

É inegável que esta bela película fala primordialmente de amor. Um amor profundo, sem medo e sem fronteiras. Como o amor do fazendeiro (James Cromwell) pelo frágil porquinho Babe. Um amor tão grande que não teme o ridículo. Mas, não é assim quando estamos apaixonados por alguém ou por um projeto de vida? O filme defende a tese de que quando amamos de verdade, acreditamos no potencial de quem amamos. Encorajamos a “pessoa” amada a seguir e lutar por seus sonhos, mesmo que pareçam absurdos. Por isso, o velho criador de ovelhas não teme se expor ao ridículo diante dos seus pares porque acredita no potencial de seu amado e especial porquinho.

A intolerância é um dos grandes problemas do século XXI. Sempre vemos o outro como perigoso e potencial inimigo. Assim como os cães pastores, que sempre viam as ovelhas como seres inferiores e burros, e as ovelhas, que sempre viram os terríveis “lobos” como brutos, violentos e burros. Assim sempre viveram em conflito e com desconfianças mútuas. Até que um frágil e desengonçado porquinho mostrou aos cães que as ovelhas eram inteligentes e poderiam colaborar se houvesse mais diálogo, e mostrou às ovelhas que os terríveis “lobos” poderiam também dialogar e não só morder e rosnar. Pena que haja poucos “porquinhos” Babe na vida real e que suas vozes sejam quase sempre ignoradas.

O filme mostra também que, infelizmente, as perdas fazem parte de nossas vidas e que, apesar de nos causarem imensa dor, contribuem para que venhamos a amadurecer e evoluir. É emocionante a cena em que o doce Babe perde sua amiga, a velha ovelha que lhe dava conselhos e que ajudou em sua educação. O nosso herói descobre que a dor faz parte da vida e que podemos crescer ao superar o sofrimento.

Finalmente, o nosso pequeno herói nos ensina que não devemos ser fatalistas e aceitar rótulos que nos sejam colocados por terceiros. Deus nos concede habilidades e não devemos ter medo de usá-las porque nos consideram predestinados a sermos outra coisa. Está em nossas mãos a oportunidade de construir o nosso destino, principalmente se temos aqueles que nos amam ao nosso lado. E todas estas lições de vida são tratadas com humor e poesia, sem parecer piegas ou coisa de livros de auto-ajuda.

Por isso tudo, faço reverência a este grande herói do cinema, tão poderoso em sua bondosa fragilidade e em seu generoso coração!

6 Comments:

  • Sócio, já que estamos entrando no clima das festas de fim de ano, foi bom você ter lembrado do presunto. :-D
    Falando sério, assim como você e o fazendeiro, não tenho a menor vergonha de declarar o meu apreço por Babe, o herói anti-determinista. Como se não bastassem todas estas preciosas lições de vida que você muito bem destacou, o filme ainda prima pelos efeitos que antropomorfizam os animais. Sem dúvida, uma das mais bem realizadas e contundentes fábulas do cinema. Para quem ainda não viu, recomendo também a seqüência “Babe, o Porquinho Atrapalhado na Cidade”. Grande abraço!

    By Blogger Paulo Assumpção, at 12:00 AM  

  • Evandro, quantas belas e valiosas lições esse porquinho australiano tem a nos ensinar! E pensar que, mesmo bem mais jovem do que hoje, não visualizei nenhuma dessas virtudes quando vi o longa uma única vez há mais de meia década (confesso que sempre achei-o superestimado, preferindo a seqüência realizada em 98). Desde já, uma filme que necessita revisão.

    Cumps.

    By Blogger Gustavo H.R., at 12:50 PM  

  • Gosto do filme e do porquinho. Apesar de gostar mais de seu dono.

    Quanto à sequência, acho-a horrível.

    Em tempo, adorei o logo natalino.

    By Anonymous Anônimo, at 11:33 AM  

  • Grande Evandro!
    Antes de mais nada, quero agradecer a sua presença na peça que estamos encenando. Fiquei sinceramente agradecido com a sua presença e de sua simpática esposa, nos prestigiando. E se gostaram e se riram, fico ainda mais feliz. Muito obrigado, de coração!
    Agora vamos ao presunto (rá! rá! rá!, esse Paulo...).
    E adorei os dois filmes do Babe! Ri muito. Gostei especialmente daquelas três marmotinhas cantoras. Concordo com cada letra de seu post, assino embaixo. Um grande abraço, amigão! E vamos fazer o mega-encontro de blogueiros! Tenha um bom domingo!

    By Blogger Marco, at 11:39 AM  

  • É isso aí, sócio. Só tenha cuidado com o presunto, que isso engorda!hehe!
    Realmente o filme vale uma revisão, Gustavo. É uma película que emociona sem ser apelativa.
    Bem, Gabriel, não achei a seqüêntcia ruim. Está certo que só vi a continuação uma vez e há muito tempo, mas lembro-me de ter gostado.
    Grande Marco, eu é que agradeço o convite e as boas gargalhadas que dei durante o espetáculo. Estávamos precisando disso. A Simone agradece pelo simpática.
    Não posso deixar de reverenciar o seu talento como ator. Parabéns!
    Vamos fazer o encontro sim. Já até falei sobre o assunto com o Paulo, mas vamos marcar mesmo e não só ensaiar. hehe!
    Um grande abraço!

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 8:34 PM  

  • Olá Evandro e Paulo, é com felicidade que venho convidar-lhes para visitar o Portal Cine que está sendo reinaugurado hoje. Volto a blogosfera engatinhando mas feliz! Um grande abraço!!

    By Anonymous Anônimo, at 2:09 PM  

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