sexta-feira, agosto 18, 2006

O COWBOY DO FUTURO

Num momento em que os lançamentos andam mornos e nos falta o tempo para freqüentar as salas de cinema, nada como relembrar um “clássico” da época da adolescência. Quem foi moleque nos anos 80 certamente vibrou com o arrasa-quarteirões chamado Robocop – O Policial do Futuro (RoboCop, 1987). Que atire a primeira pedra o adolescente vidrado em filmes de ação que não babou por este ícone do gênero! E certamente não foi por acaso que o filme causou sensação.

Muitos admiradores do cinema torceram o nariz para esta película. O seu conteúdo altamente violento contribui para criar uma verdadeira repulsa de boa parte dos cinéfilos. E exatamente neste ponto está a primeira qualidade do filme. O diretor Paul Verhoeven não tentou enganar o público. Não quis dar uma capa “família” para a sua obra. Assumiu a violência brutal da trama (que hoje já não parece tão brutal, infelizmente), expondo-se às pesadas críticas que certamente viriam. Não há concessões a um padrão de bom senso moral da família média americana.

O roteiro se apóia na situação básica de muitos bons westerns: o mocinho é trucidado por um bando de terríveis e cruéis vilões e depois parte para a vingança. Só que neste caso alguns elementos recebem uma roupagem futurista e um tom de ficção científica. O policial Alex Murphy (Peter Weller) é “assassinado” por uma quadrilha formada por bandidos extremamente cruéis. Só que o nosso moribundo herói faz parte de um projeto da poderosa corporação OCP, uma empresa contratada para trabalhar na segurança da cidade de Detroit. Após esta experiência, Murphy ganhará a chance de buscar vingança contra os seus terríveis algozes. Apesar dos elementos futuristas, o herói continua sendo o cowboy em busca de vingança. Essa é outra qualidade do filme: a sua abordagem simples e direta.

Por outro lado, Robocop possui elementos que não são comuns aos westerns e que lhe conferem verdadeira originalidade. Elementos como a corrupção, a degradação moral e os abusos do poder econômico permeiam todo o roteiro. Há um quê de Sin City nesta Detroit do futuro. A cidade violenta, dominada por bandidos e uma alta sociedade totalmente podre. Talvez não tenha sido por acaso que Frank Miller foi convidado para escrever a inferior continuação, chamada Robocop 2. Depois desta, as outras seqüências são sofríveis e uma ofensa ao bom filme original.

Uma análise desta película não estaria completa sem uma referência à inspiradíssima trilha sonora de Basil Poledouris, com a marcante melodia do tema principal do filme e músicas complementares que fogem da habitual banalidade que costuma marcá-las.

Quem não se importar com a brutalidade que marca esta interessante trama, certamente encontrará um filme que foge da vulgaridade dos filmes de ação idiotas, onde pobres soldados fazem filas para serem alvejados por tiros de M-16, disparados por um brutamontes monossilábico. Longe disso, o protagonista de Robocop traz consigo a humanidade e a fragilidade, mesmo após passar pela “transformação”. Nada é fácil para este trágico herói, vagando por esta cidade imunda, violenta e sem esperanças. Um dos filmes mais marcantes dos anos 80, que vale uma conferida livre de preconceitos.

11 Comments:

  • Que beleza Evandro! Você comentou um dos meus filmes prediletos dos anos 80! Eu ainda me lembro do impacto que o filme causou em mim e nas pessoas da minha geração que o assistiram (a maioria, nos cinemas de bairro, que não existem
    mais), com aquela sociedade do futuro violenta e corrupta, policiais (homens e mulheres)também violentos e corruptos(os maus). Só que eu, confesso, gosto de alguns filmes com grandalhões monossilábicos! Abraços para você e Simone.

    By Anonymous Anônimo, at 12:31 PM  

  • É meu filme predileto de Paul V., pela violência e triste visão do futuro, pena as continuações deturparem o contexto inicial.

    By Anonymous Anônimo, at 5:36 PM  

  • Também gosto de alguns filmes com grandalhões monossilábicos, Ana. Mas temos que admitir que Robocop é bem superior a este tipo de filme!
    Também acho o melhor filme do cineasta, Paulo Jr. E realmente as continuações foram uma ofensa ao filme original.

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 6:22 PM  

  • Evandro , tivemos um problema no cinefilos mas voltamos. O cara da hospedagem disse que nao pagamos, enfim, ta normal.

    []'s

    By Anonymous Anônimo, at 6:49 PM  

  • Grande Evandro!
    Boa resenha. Mas o que anda morna é a safra de blockbuster. Temos bons filmes rolando no circuito alternativo.
    Um abração!

    By Blogger Marco, at 7:27 PM  

  • Ainda bem que o problema já foi resolvido, Jedi.
    É, Marco, o circuito alternativo é complicado para mim. Você sabe que na baixada não há circuito alternativo. Ainda assim, o circuito alternativo só melhorou com as estréias desta semana. Até a semana passada também estava bem fraquinho!

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 8:55 PM  

  • Então tem gente que critica esse filme por causa da violência? Realmente, Verhoeven não se acanha e a emprega sem pudores, mas o faz como parte de sua arte. Imagine TROPAS ESTELARES versão "família".
    Nunca vi ROBOCOP, mas até deu vontade agora.

    Cumps.

    By Blogger Gustavo H.R., at 9:12 PM  

  • Assista Robocop, Gustavo. Na minha humilde visão é a obra-prima de Paul Verhoeven!

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 9:20 PM  

  • Grande lembrança, sócio! Quando assisti a este filme pela primeira vez (pela TV, se não me engano na ‘Tela Quente’) fiquei chocado com a violência explícita, sobretudo na seqüência de tortura do policial Murphy (antes de virar RoboCop). Também imaginava que uma polícia entregue pelo Estado a uma empresa fosse coisa de ficção científica. A onda de privatizações e terceirizações que assolou o Brasil na década seguinte mostrou o quanto eu era ingênuo. Ainda merecem destaques as falsas (e bizarras) propagandas mostradas ao longo do filme. Detalhes de uma produção que realmente consegue transcender o seu gênero. Um abraço!

    By Blogger Paulo Assumpção, at 1:37 PM  

  • Não há o que acrescentar ao seu comentário, sócio. Grande lembrança dos falsos comerciais do filme! São impagáveis!

    By Blogger Evandro C. Guimarães, at 12:55 PM  

  • Apesar de ser um clássico interessante, Robocop não me causou na época o mesmo impacto que a trilogia De Volta para a Futuro, de Robert Zemeckis. Talvez pelo fato de eu só me interessar por ficção científica anos mais tarde. Mas, ainda assim, é um filme que marcou uma geração. Abraços do crítico da caverna cinematográfica.

    By Anonymous Anônimo, at 10:51 AM  

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