sexta-feira, setembro 29, 2006

OS TORTUOSOS CAMINHOS DA PRETENSÃO

Já fui acusado, inclusive neste espaço virtual do Cinelândi@, de negligenciar o cinema nacional. Confesso que películas nacionais poderiam ter mais espaço nos meus textos. Mas isto não acontece por preconceito. Sempre estou torcendo para que os cineastas brasileiros realizem grandes obras, que levem o nosso cinema ao topo, sem jamais perder a sua “brasilidade”. Não creio que devamos fazer concessões para ficarmos mais parecidos com o cinema deste ou daquele país. Os nossos filmes podem fazer muito sucesso sem perder as suas características. E o objetivo primordial é conseguir mais espaço no mercado do Brasil. Se o sucesso internacional também vier, será muito bem-vindo.

Colocada esta declaração de princípios, vamos ao que interessa! Mesmo sendo um defensor do cinema nacional, não considero que devamos ignorar as falhas das produções brasileiras. Muito pelo contrário, uma postura sempre crítica, cobrando qualidade e originalidade, é o melhor caminho para que os filmes produzidos no Brasil tenham um padrão digno de toda a riqueza cultural do nosso país. Se os filmes brasileiros não aparecem aos montes em meus textos é porque procuro sempre ter um olhar crítico. Aqui não há espaço para patriotadas e elogios vazios. Exatamente por isso, analisarei a seguir uma película brasileira que aguardei com grande ansiedade e fé, mas que terminou por me causar decepção.

Desde o ano de 2004, aguardo a oportunidade de assistir ao filme Contra Todos. Como consta na capa do DVD, o filme brasileiro mais premiado daquele ano. Pelas informações que me chegaram, esperava um filme tenso, um tanto pessimista, inteligente e contendo uma contundente crítica social. Um retrato realista e triste da classe média brasileira. A história se passa numa periferia paulista e conta as desventuras de uma família que decididamente não é de classe média. Um pai de família em conflito interno, tentando apelar para a religião como saída. Sua mulher entediada, busca em amantes a intensidade que anda faltando ao casamento. A filha do protagonista, fútil e desamparada, não tem relação totalmente amigável com a madrasta. Parece um enredo interessante, mas mal executado pode gerar um dramalhão mexicano.

Acrescente assassinatos, vidas duplas, mentiras, traições e o retrato realista já começa a parecer a novela dos oito. Há também cenas de sexo sem muito objetivo fílmico. A semelhança com o folhetim eletrônico aumenta. A trama não consegue penetrar na origem social de toda aquela degeneração. Não há retrato social algum. Apenas estratagemas novelescos. O filme poderia se chamar “Os Conflitos Familiares de um Assassino”. Seria muito mais honesto e menos pretensioso.

Em relação aos aspectos técnicos, a pretensão é maior ainda. Uma câmera digital com uma imagem de extremo mau gosto, colocada de propósito para dar aquela capa de filme alternativo. Críticos adoram diretores do cinema underground. Adicione a isto, constantes e dispensáveis movimentações de câmeras para passar a sensação de filme com mobilidade e modernidade. Críticos adoram diretores moderninhos, com enquadramentos “tremidos”. Começo a entender o número de prêmios incompatíveis com a baixíssima qualidade do filme.

Por fim, temos um diretor que quer aparecer mais que o filme. No final da película, temos uma cena que é mostrada de três pontos de vista diferentes. Uma firula desnecessária e que nada acrescenta à trama. As revelações feitas nestas cenas acabam perdendo o impacto. Coisa de um jovem diretor querendo mostrar que é uma revelação, que é o futuro do cinema brasileiro. E olha que este recurso nem é original! Nosso “amigo” Quentin Tarantino já havia feito uma firula semelhante em Jackie Brown. Mas parece que os críticos gostam de diretores jovens, arrogantes e pretensiosos, que pensam ter descoberto a pólvora.

Fica a lição de que não é a pretensão ou a obrigação de ser “novo” que levarão o cinema nacional aos trilhos da qualidade e do sucesso. Também parece claro que, daqui para frente, terei sempre uma desconfiança com filmes muito queridinhos pelos críticos e julgadores de premiações internacionais.

6 Comments:

  • Sócio, não precisa ficar traumatizado! Felizmente, há muitos filmes brazucas que fazem jus às boas críticas e aos prêmios recebidos. Um bom exemplo disso é o nosso candidato a candidato ao Oscar de filme estrangeiro, Cinemas, Aspirinas e Urubus. Como ele está para retornar às salas de cinema – e espero que isto inclua as da Baixada, – aproveite a oportunidade para conferi-lo. Garanto que, desta vez, não irá se decepcionar! Grande abraço!

    By Blogger Paulo Assumpção, at 11:31 PM  

  • FALHA NOSSA: As aspirinas e os urubus podem ser muitos, mas o cinema é um só! :-D

    By Blogger Paulo Assumpção, at 11:33 PM  

  • Grande Evandro, tenho que discordar de vc em relação a esse "Contra Todos". Os pontos que vc colocou como negativos, são justamente os que achei mais positivos. hehehehe
    Abrãção desse seu amigo e grande apreciador do Cinel@andia. :)

    By Anonymous Anônimo, at 11:38 PM  

  • Esse eu não vi. Aliás, nem me lembro dele.
    Faço minhas as palavbras do sempre sábio Paulo, meu grande pesonal teacher de template.
    abração!
    (E aí? Vocês estão vendo o Rio Festival? Já vi umas coisinhas interessantes...)

    By Blogger Marco, at 2:19 AM  

  • Correção: PERSONAL

    By Blogger Marco, at 2:20 AM  

  • Ainda não assisti Contra Todos, mas pretendo assistir em breve. ÀS vezes também custo a postar filmes nacionais por receio ou por acreditar que filmes melhores existem no nosso mercado. O brasileiro, em suma, é assim mesmo: sempre é mais exigente com aquilo que é produzido na sua própria terra. Paulo, não esqueci do desafio, não (sobre as seis faces do blogueiro). Ando meio atolado, mas o meu perfil está quase pronto. Abraços do crítico da caverna cinematográfica.

    By Anonymous Anônimo, at 9:27 AM  

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