sexta-feira, abril 28, 2006

VIDA LONGA E PRÓSPERA - 40 ANOS DE JORNADA NAS ESTRELAS: A Ira de Khan

Em Semente do Espaço (Space Seed), um dos melhores episódios da primeira temporada de Jornada nas Estrelas, a tripulação da Enterprise inadvertidamente traz de volta à vida um grupo de super-homens responsáveis por terríveis conflitos em nosso planeta. Sob a liderança de Khan Nooniem Singh (Ricardo Montalban), eles tomam a nave do capitão Kirk (William Shatner). Como não poderia deixar de ser, nossos heróis conseguem recuperar o controle da Enterprise, restando aos amotinados o banimento no planeta Ceti Alfa 5. No final do episódio, os protagonistas da série mostram curiosidade a respeito do futuro de Khan e seus seguidores naquele mundo.

Este foi justamente o gancho encontrado por Harve Bennett, produtor de sucessos televisivos como O Homem de Seis Milhões de Dólares, para criar a trama da segunda incursão de Jornada nas Estrelas nos cinemas. Satisfeitos com a boa bilheteria de Jornada nas Estrelas - O Filme (Star Trek – The Motion Picture), os executivos da Paramount Pictures deram sinal verde para a produção do segundo longa baseado na série, porém com Bennett à frente da mesma. Gene Rodenberry, criador de Jornada, foi relegado a um cargo simbólico (o estúdio o culpava por problemas nos bastidores do primeiro filme). Para a direção foi contratado o intelectual Nicholas Meyer, após o mesmo ter escrito uma versão (quase) definitiva do roteiro que estava difícil de sair.

Na história de Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan (Star Trek II - The Wrath of Khan), Ceti Alfa 5 se transformou em um mundo constantemente varrido por tempestades de areia e habitado por uma espécie de verme mortal. Culpando Kirk (Shatner no auge de sua canastrice) por condená-lo a viver em um ambiente tão hostil e pela morte de vários camaradas, Khan parte para a vingança. Rouba a nave Reliant e, no comando da mesma, confronta a Enterprise. Sem conseguir derrotar Kirk, mesmo após um ataque que deixa sérias perdas e danos para ambos os lados, Khan consegue se apoderar do projeto Gênesis, experimento capaz de criar vida em mundos onde ela não exista (ou destruí-la, caso contrário). Tal ato força a Enterprise a travar uma tensa batalha final contra a Reliant de Khan e seus seguidores no meio de uma nebulosa.

Apesar de só se familiarizarem com Jornada ao se envolverem na produção de A Ira de Khan, Bennett e Meyer, entenderam bem o espírito da série. Junto com um dos mais interessantes vilões dos episódios televisivos, voltaram o bom texto de ficção-científica (acrescido de referências a clássicos da literatura – cortesia de Meyer – e novamente capaz de render debates a respeito de temas relevantes), seqüências empolgantes de ação (conduzidas pelos personagens, que deixam de ser meros espectadores como no filme anterior), o senso de humor (em especial, as picuinhas entre Spock e McCoy) e a capacidade de se produzir uma obra de qualidade equilibrando um orçamento apertado (cenários foram reaproveitados e cenas foram canibalizadas do primeiro longa para diminuir os custos).

Mais do que um filme para trekkers, A Ira de Khan também é capaz de agradar aos não-iniciados e bem merece uma menção na história do cinema pela seqüência do “Efeito Gênesis”. Criada em computadores pelos magos da Industrial Light and Magic, ela mostra o surgimento da vida em um planeta. Isso em 1982! O que faz deste Jornada um pioneiro no uso da computação gráfica.

sábado, abril 22, 2006

LONDON REVOLUTIONS

Final do século XX, o pesadelo de décadas se transforma em uma terrível realidade: eclode a Terceira Guerra Mundial. Por alguma razão, a Inglaterra é poupada dos ataques de armas nucleares que assolaram outras nações do mundo. Contudo, o caos reina no país. Para restabelecer a ordem, um governo fascista se impõe no poder. Minorias e opositores são enviados para campos de concentração, onde terminam eliminados. O restante da população é mantida sob rígida vigilância das autoridades. No entanto, toda esta estrutura totalitária é abalada pelas ações de um misterioso mascarado. Sob o signo da anarquia, ele destrói símbolos do poder e assassina figurões do regime. Sobrevivente da violência patrocinada pelo Estado, ele quer mais do que vingança. Seu objetivo maior é devolver ao povo a liberdade que lhe foi arrebatada.

O futuro do pretérito acima descrito foi imaginado por Alan Moore, um dos mais incensados autores de histórias em quadrinhos da atualidade. Em parceria com o ilustrador David Lloyd, Moore transformou suas idéias na graphic novel V de Vingança. Era o início dos anos oitenta e a profecia de Moore parecia estar bem próxima de se concretizar. A Inglaterra era governada com mãos de ferro por Margaret Thatcher e as relações entre as duas superpotências do período, EUA e URSS, andavam bastante tensas. Felizmente, a História tomou rumos menos piores: Lady Thatcher não chegou a virar um Hitler de saias e a Guerra Fria terminou. O que não desqualifica as habilidades de píton de Moore. O futuro de V só estava um pouco mais à frente. E, conseqüentemente, mais próximo de nós.

O cenário pós-11 de Setembro, onde, em nome do combate ao terrorismo (real ou imaginário), guerras preventivas são travadas e liberdades cerceadas, tornou-se a deixa perfeita para a transposição de V para os cinemas. V de Vingança (V for Vendetta), o filme, segue basicamente a trama estabelecida por Alan Moore nos quadrinhos. Tudo gira em torno da doutrinação da personagem Evey (Natalie Portman) por V (Hugo Weaving). O anarquista conhece a garota após salvá-la de ser estuprada pelos Homens-Dedo (espécie de Gestapo). Evey então presencia o primeiro grande ato terrorista de V: a destruição do prédio do Ministério da Justiça, acompanhada da promessa de que, dali a um ano, outra importante edificação viria abaixo, juntamente com o regime totalitário então no poder daquela Inglaterra fictícia.

Os melhores momentos do longa ficam mesmo por conta das seqüências retiradas dos quadrinhos, como as dramáticas cenas de Evey no cativeiro. Se bem que eu não pude deixar de rir mentalmente imaginando a melosa “Love by Grace” tocando no momento em que a mocinha tem suas madeixas raspadas. Mas falando sério, a pitéu Portman não faz descaso da origem quadrinhesca de sua personagem e nos entrega uma ótima performance. Outro que impressiona é John Hurt, que faz uma interessante composição do ditador Slater inspirada na fisionomia decrépita e na histeria de Hitler.

E se algumas modificações com relação aos quadrinhos funcionam perfeitamente, como a nova contextualização para a ascensão do fascismo inglês e a transferência da destruição das Casas do Parlamento para o clímax da história (numa cena que dá vontade de sair do cinema e derrubar os poderosos), outras incomodam bastante. O romance entre os protagonistas é totalmente desnecessário, assim como o excesso de explicações para as motivações de V. Mesmo assim, o filme não chega nem de longe a ser constrangedor como A Liga Extraordinária (The League of Extraordinary Gentlemen). Se bem que, dentre as adaptações das obras de Alan Moore para o cinema, ainda sou mais Do Inferno (From Hell). Melhor sorte para Watchmen!

sexta-feira, abril 14, 2006

UM ÉPICO DIVINO

No final da década de cinqüenta, a Metro-Goldwin-Mayer, outrora produtora de sucessos retumbantes do cinema, como O Mágico de Oz (The Wizard of Oz) e Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain), encontrava-se à beira da falência. Somente um milagre poderia salvar o estúdio do leão. E o milagre veio na forma de uma das maiores superproduções de todos os tempos: Ben-Hur. Curiosamente, um remake do filme que praticamente inaugurou as atividades da MGM, em meados dos anos vinte. Esta (segunda) versão da saga do príncipe judeu que, nos primórdios do cristianismo, cai em desgraça após ser traído por um ex-amigo romano, pode ser responsabilizada por conferir à Metro o perfil de produtora de filmes caros e bem-sucedidos. Portanto, refazer seu primeiro grande sucesso não me parece ter sido uma escolha aleatória. Ben-Hur seria o símbolo perfeito para a ressurreição do estúdio.

A bem da verdade, foi uma aposta bastante arriscada da MGM, do tipo “ou tudo ou nada”. Os executivos da Metro abriram os cofres e deram total apoio logístico para que a fita se transformasse em um espetáculo capaz de arrebatar multidões para as salas de cinema. Por conta disso, a produção de Ben-Hur ganhou uma dimensão bíblica. Tudo era superlativo, dos milhares de extras aos sets colossais. Só a pré-produção do filme consumiu cerca de um ano e transformou em um canteiro de obras a lendária Cinecittà, em Roma, onde foram rodadas seqüências antológicas, como a corrida de quadrigas. Como se não bastasse, utilizando-se de uma estratégia que soa bem atual, a Metro promoveu uma gigantesca campanha de marketing, responsável pela criação de uma verdadeira ben-hurmania. Ben-Hur virou filme consagrado antes mesmo de chegar às telas. Ou melhor, telonas!



Porém, como toda mega-produção, a de Ben-Hur não foi um Paraíso. O produtor do filme, Sam Zimbalist (que também participou da versão de 1926), não agüentou o tranco, teve um ataque cardíaco e faleceu no meio das filmagens. O roteiro, originalmente escrito por Karl Tunberg, estava repleto de trechos que desagradavam ao diretor William Wyler e precisou ser reescrito. Trabalho que coube, em boa parte, ao escritor Gore Vidal. É dele, por exemplo, o subtexto que coloca os amigos e, depois, antagonistas Ben-Hur (Charlton Heston) e Messala (Stephen Boyd) como antigos amantes. Uma idéia ousada para a adaptação de uma história que tem como subtítulo “Um Conto do Cristo”. Polêmicas à parte, o que mais chama à atenção no texto do filme é a sua qualidade. Percebe-se todo um cuidado para que os diálogos sejam poéticos e falem para além do que aparentemente querem dizer.

Outros destaques de Ben-Hur são a impressionante riqueza de detalhes das imagens (exigência de uma época em que a TV começava a roubar público do cinema); a trilha sonora de Miklós Rózsa, majestosa, sem ser apelativa; as intensas emoções despertadas pelo primoroso trabalho de Wyler; e a temática de fé, que - é bem verdade -, acompanha um modismo da época, mas nunca resvala para a apologia desta ou daquela religião.

Com tantos acertos, Ben-Hur mais do que cumpriu o objetivo que levou à sua refilmagem. Faturou alto nas bilheterias; recebeu diversos prêmios, entre eles 11 Oscars (marca nunca superada e apenas igualada recentemente por Titanic e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei); foi alçado à condição de um dos filmes mais populares de todos os tempos; influenciou toda uma geração de cineastas, dentre os quais se destacam George Lucas e Ridley Scott; e, em especial, nos traz uma mensagem mais do que necessária aos nossos tempos: só podemos ser realmente felizes sem ódio no coração.

sexta-feira, abril 07, 2006

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO

Início da década de 90, mais precisamente o ano de 1990. Dois irmãos fazem uma campanha subterrânea e persistente para atingirem os seus objetivos. Não é a novela das oito. Nem mexicana, embora pareça. Esta é a jornada heróica deste que vos escreve e seu irmão mais novo para convencerem o seu progenitor a cometer o disparate de comprar o supérfluo aparelho de vídeo-cassete. A maioria dos colegas de escola já estava cansada de ter este pequeno tesouro tecnológico. Falavam até com certo desdém: “meu vídeo tem quatro cabeças”, “é importado não sei de onde”, “pego não sei quantos filmes por final de semana”... e continuam os dois irmãos sonhando com esta panacéia do mundo contemporâneo. Sonhavam ardentemente com o primeiro filme que pegariam em alguma locadora da vida e, então, entrariam finalmente para o clube.

Após apelos, interpretações dignas de Oscar e ajuda materna sempre muito bem-vinda, a barreira é vencida e meu pai decide comprar “aquele aparelho caro que não serve para nada de prático”. Não é o “quatro cabeças importado” dos playboys da escola. Na verdade é um CCE de duas cabeças. Isto não tem a mínima importância. A alegria não pode ser contida por estes pequenos detalhes. Agora, a missão mais emocionante: decidir qual filme teria a honra de inaugurar nosso recém-conquistado tesouro da adolescência.

Tinha uns quinze anos, meu irmão menos ainda. Não esperem que o primeirão tenha sido um filme europeu sobre o sentido da vida ou a filosofia da história. Éramos apenas moleques. E o pior, moleques crescidos nos famigerados anos 80. Éramos ingênuos e não precoces, como a molecada de hoje que aos 13 anos discute Michel Foucault. E o escolhido para iniciar nossa vida de vídeo-viciados foi... O Grande Dragão Branco. É isso mesmo que você leu, um filme do ator (ou lutador?) belga Jean-Claude Van Damme, o rei da porradaria, bem no início da carreira!

Perguntam se me arrependo? A resposta é simples e direta: NÃO! Era um momento da minha vida em que a única opção seria desse tipo. Para falar a verdade, sou capaz de assistir a este filme, de cabo a rabo, hoje, em pleno ano 2006. Obviamente tenho uma outra visão. Percebo um humor involuntário na fita que não via naquela época. Isto torna a sessão ainda mais divertida! Mas não vou parodiar o FHC e dizer “esqueçam o que eu assisti”.

É claro que o tempo passou, a minha visão de mundo mudou por uma série de fatores diferentes. Filmes como Rain Man, Sociedade dos Poetas Mortos e o incomparável Era Uma Vez no Oeste começaram a mudar a minha percepção. Até que chego ao último filme que aluguei, agora em DVD, mídia que faz o tão desejado vídeo-cassete parecer uma brincadeira tosca. A película em questão é o maravilhoso Hotel Ruanda, que ainda receberá o tratamento especial que merece aqui no Cinelândi@.

Certamente uma mudança qualitativa se operou. Não sou mais aquele adolescente cabeça-dura, que só via filmes de ação. Mas, também, não vamos ser simplistas ou maniqueístas. Um bom filminho de ação, de vez em quando, não faz mal a ninguém. Ainda mais se for bem feito como o emocionante A Supremacia Bourne.

Resumindo, do primeiro ao último filme alugado, muita coisa mudou. Hoje torturo os pobres e indefesos leitores do Cinelândi@ com este meu amadorismo indisfarçável. Fiquei abusado, metido a dar opiniões sobre filmes. Pelo menos agora, os antes indefesos leitores poderão jogar na minha cara: “Você não sabe nada de cinema, o primeiro filme que você alugou foi O Grande Dragão Branco!!” hehehe!

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