sexta-feira, junho 23, 2006

VIDA LONGA E PRÓSPERA - 40 ANOS DE JORNADA NAS ESTRELAS: A Volta para Casa

A boa receptividade de Jornada nas Estrelas III - À Procura de Spock (Star Trek III: The Search for Spock) junto ao público provou à Paramount Pictures duas coisas: sua franquia espacial ainda tinha fôlego nas bilheterias e Leonard Nimoy era mesmo o homem certo para conduzi-la por trás das câmeras. Desta forma, a gestação de um novo filme de Jornada não tardou a acontecer. E para dar vida a ele, Nimoy, agora com o cacife alto no estúdio, optou por uma história mais leve, sem o drama e a violência que marcaram a produção anterior. De fato, o intérprete do sisudo Sr. Spock – quem diria – fez de Jornada nas Estrelas IV - A Volta para Casa (Star Trek IV: The Voyage Home, 1986) uma comédia das boas.

A trama começa de onde Jornada nas Estrelas III parou, ou seja, com o capitão Kirk (William Shatner) e cia. retornando à Terra para serem julgados pelas infrações que cometeram em sua procura pelo ressuscitado Spock. Contudo, antes de chegarem em casa, descobrem que o planeta está sendo inadvertidamente destruído por uma sonda alienígena. Esta tenta restabelecer contato com uma espécie de baleia extinta à época de nossos heróis, o século XXIII. No processo, deixa naves à deriva e vaporiza oceanos. Assim, a tripulação da Enterprise viaja para o século XX (utilizando a mesma “técnica” vista no clássico episódio Amanhã é Ontem) a fim de encontrar e levar para o futuro os únicos interlocutores da enigmática sonda.

Os roteiristas, dentre os quais estavam Harve Bennett, Nicholas Meyer e o próprio Nimoy – as grandes mentes por trás dos longas com o elenco original de Jornada –, estavam mesmo inspirados quando conceberam as diversas piadas resultantes do choque cultural vivido por homens de um futuro certinho em meio à caótica sociedade norte-americana contemporânea. Há quem diga que, passadas duas décadas, o filme envelheceu por fazer rir de situações típicas dos anos 80, como nas cenas em que Spock “apaga” um punk e o russo Chekov (Walter Koenig), a bordo do porta-aviões Enterprise, é preso e interrogado por militares (Guerra Fria lhes diz alguma coisa?). Bobagem! Quanto mais distante no tempo, melhor é a identificação do público com o estranhamento vivido pelos protagonistas.

Ainda que ancorado no humor, Jornada nas Estrelas IV mantém-se fiel à tradição da série de levantar discussões relevantes. Em sintonia com as preocupações ecológicas de seu tempo, a história apela à responsabilidade dos humanos para com os demais seres do planeta. Lembra que fazemos parte de um todo e, portanto, cedo ou tarde, as agressões cometidas por nossa espécie à natureza pode levar à nossa própria destruição. É possível que nunca sejamos confrontados por artefatos extraterrestres, mas o aparecimento de doenças, que antes se escondiam em ambientes agora devastados pelo homem, mostra o quanto a mensagem de Jornada IV está longe de ser apenas ficção científica.

Ecologicamente correto e francamente divertido, Jornada nas Estrelas IV é o mais acessível de todos os filmes da longeva cinessérie. Não à toa, tornou-se a maior bilheteria de Star Trek. O que deixou os executivos da Paramount tão felizes, mas tão felizes, que eles decidiram premiar Leonard Nimoy oferecendo-lhe o cargo de produtor executivo de um novo produto de Jornada: o seriado A Nova Geração (que ganhou sinal verde graças ao sucesso comercial do 4º longa). Nimoy declinou do convite. Disse que um gênio não pode ser aprisionado duas vezes na garrafa, referindo-se à improbabilidade do novo show ser tão bem sucedido quanto o original. O tempo mostrou que estava enganado. Infelizmente, para ele, na vida real não é possível voltar ao passado para corrigir erros.

sexta-feira, junho 16, 2006

UM DIRETOR EM QUEDA

Muitas vezes a expectativa em relação a um filme pode ser o pior tempero para uma avaliação coerente sobre o mesmo. Entretanto, foi impossível para mim não criar expectativas positivas sobre a aclamada obra de Clint Eastwood chamada Sobre Meninos e Lobos (Mystic River). Já havia assistido ao seu último filme, Menina de Ouro (Million Dollar Baby), e por diversas razões ainda não tivera a oportunidade de conferir seu tão reverenciado trabalho anterior. Colaboravam para este clima de grande expectativa as infindáveis referências às interpretações de Sean Penn, Tim Robbins e de todo o elenco de forma geral.

Infelizmente, a maior parte destas expectativas foram frustradas quando finalmente tive a oportunidade de conferir o referido filme. Não consegui perceber na direção a personalidade que notamos em outras obras de Eastwood. O filme não consegue emocionar como parece ser a sua pretensão. O fatalismo exagerado empobrece sensivelmente a narrativa. Os personagens parecem estar fadados a cumprirem seus tristes destinos. Nada pode evitar este fato. Não há possibilidade de mudança. Uma mistura de determinismo genético e social torna os personagens meras marionetes nas mãos de um destino inevitável. Além de tudo, a interpretação de Sean Penn, tão reverenciada, parece em muitos momentos exagerada e desmedida. Quem teve o prazer de assistir a 21 Gramas sabe que o ator é capaz de fazer muito melhor.

Seria injusto não ressaltar a excelente atuação de Robbins, realmente digna de premiação. Não há exageros para chamar a atenção do público ou dos críticos. É uma atuação na medida certa, dando conta da perturbação contida do personagem, com perfeição. Apesar disso, há momentos de certos atores que soam constrangedores. A cena em que a esposa do protagonista faz um discurso defendendo a conduta do marido leva a competente Laura Linney à beira do ridículo. O filme que vinha até então dominado por diálogos cotidianos, de repente toma conotações de texto shakespeariano, numa grotesca contradição. O texto era tão desconexo com o restante do roteiro que nem o talento de Linney salvou a cena do desastre total.

Creio que esta minha avaliação negativa desta película não foi fruto apenas de expectativas exageradas. Ousaria dizer que, na minha visão, Eastwood é um diretor em queda. Olhando sua carreira desde o soberbo Os Imperdoáveis (Unforgiven) até o supervalorizado Menina de Ouro, passando pelo fraco Um Mundo Perfeito (A Perfect World) e o também decepcionante Sobre Meninos e Lobos, a conclusão é que o diretor não é mais o mesmo.

Em Os Imperdoáveis, o fatalismo até estava presente, é verdade. Porque o protagonista acaba não conseguindo fugir do que era antes. No entanto, o seu comportamento é melhor analisado. Uma combinação de acontecimentos e fatores leva à retomada dos velhos hábitos. O determinismo não tem tanto espaço. Além disso, o filme vai muito além da situação “personagens escravos de seu destino inescapável”. Eastwood é muito competente em retirar todo o glamour e idealizações infantis sobre os pistoleiros do Oeste. Não são heróis corretos moralmente, mas bêbados, brutalizados e violentos. Desaparece o herói personificado por John Wayne e abre-se espaço para a verossimilhança histórica. Os mitos do velho Oeste são desconstruídos. Tudo isso, aliado às interpretações irrepreensíveis de Gene Hackman, Morgan Freeman e do próprio Eastwood, tornam Os Imperdoáveis um dos melhores westerns da história do cinema.

É uma pena que algo tenha se perdido no meio do caminho. Nos três filmes seguintes, tudo se resume à idéia: “não conseguimos escapar ao destino que Deus, a genética ou o meio social nos reservaram”. A humanidade nos é retirada. O homem passa a ser apenas um passageiro em sua estranha viagem pelo mundo. É provável que eu esteja errado, mas recuso-me a aceitar esta sentença. E exatamente por isso, não posso fazer parte do numeroso grupo de cinéfilos que considera Eastwood um dos melhores cineastas de hoje.

Pode ser que Eastwood, com mais de setenta anos de idade, saiba mais da natureza humana do que eu um dia virei saber. No entanto, na inexperiência e ingenuidade dos meus 32 anos, mantenho minha fé na capacidade do homem de, contra todos os prognósticos e fatores determinantes (genéticos, sociais e etc), construir a sua própria história neste mundo louco, injusto, mas, acima de tudo, aberto e imprevisível.

sexta-feira, junho 09, 2006

A VOLTA DOS MUTANTES

Não, este não é um post a respeito do retorno da banda que chacoalhou o cenário musical brasileiro há algumas décadas e, de quebra, revelou Rita Lee. Deixo este assunto para o meu amigo e sócio Evandro comentar em seu blog-solo, o Restinga Musical. O título do presente texto refere-se a X-Men – O Confronto Final (X-Men: The Last Stand), terceira e – de acordo com os seus produtores – última parte da cinessérie sobre o grupo de heróis da Marvel Comics, criado nos anos sessenta por Stan Lee (nada a ver com a Rita) e Jack Kirby.

Conheci estes personagens ainda na infância, folheando os gibis que meus primos largavam pelos cantos da casa de praia do meu avô. Anos depois, peguei emprestado com amigos e uma ex-namorada alguns dos títulos mais importantes das aventuras em quadrinhos dos super-heróis mutantes, como Dias de um Futuro Esquecido e a chamada Saga da Fênix. Também assisti aos primeiros episódios da série animada dos X-Men exibida pela Rede Globo, na hora do almoço, há mais ou menos uma década. Sendo assim, já estava familiarizado com os pupilos do professor Charles Xavier e seus antagonistas quando os mesmos foram parar nas telas de cinema, no ano 2000.

Para ler nossas informações e comentários a respeito de X-Men – O Filme e X-Men 2 (X2, 2003), clique na imagem abaixo.



A trama de X-Men – O Confronto Final é uma espécie de adaptação de duas histórias distintas. A primeira – prometida desde a cena final de X-Men 2 – trata-se da acima citada Saga da Fênix, devidamente reelaborada para se adequar ao tom mais “realista” dos filmes sobre os heróis mutantes. Desta forma, Jean Grey (Famke Janssen), supostamente morta no filme anterior, volta, porém dominada pela Fênix, uma personalidade maligna e superpoderosa que se escondia em seu subconsciente. A reaproximação com seus antigos amigos resulta numa série de tragédias, a partir das quais suas vidas não serão mais as mesmas.

Paralelamente a isto, o milionário Warren Worthington II, inconformado por ter um filho mutante, anuncia que está disponibilizando uma droga capaz de eliminar o gene-X (responsável pelos poderes mutantes). Tal anúncio divide a comunidade mutante e aumenta ainda mais o ódio de Magneto (Ian McKellen) para com o restante da humanidade. A “cura” para os Homo superiors foi abordada em recentes HQs dos X-Men criadas por Joss Whedon (o mesmo de Buffy, a Caça-Vampiros).

É justamente apoiado nesta vertente de sua trama que X-Men – O Confronto Final mantém-se fiel à motivação que deu origem aos heróis nos quadrinhos: estabelecer um paralelo com questões palpitantes do mundo real. Desta vez, desfilam pela tela alusões à eliminação dos “indesejáveis” pela manipulação genética e ao terrorismo (o discurso de Magneto pela TV é cópia de aparições análogas de Osama Bin Laden). Contudo, diferente dos filmes anteriores, tais questões não chegam a ser satisfatoriamente exploradas, muito em função do excesso de personagens e sub-tramas, além de um apelo maior à ação e ao espetacular. O que, por sua vez, acredito que possa ser creditado à troca de direção. Sai a elegância de Bryan Singer, entra a adrenalina de Brett Ratner.

Com o sucesso de público que este filme vem fazendo, duvido que se sustente a idéia de que se trata da aventura final dos X-Men nos cinemas. Ainda que a produção tenha “bagunçado” consideravelmente o universo mutante, ao eliminar ou deixar sem poderes personagens importantes (tudo justificável no contexto do filme, embora deva revoltar os fãs mais ortodoxos), muitas situações foram deixadas em aberto. É possível que não vejamos mais nossos heróis reunidos na tela grande (afinal, deve ter ficado muito caro colocar em uma mesma produção astros, como Hugh Jackman, ou oscarizados, como Halle Berry), ainda assim eles devem pipocar aqui e ali em filmes-solo (alguns já programados) num cinema perto de você. Definitivamente, a cinessérie dos mutantes está em processo de evolução. O único porém é que, no mundo real, evoluir não significa necessariamente se aperfeiçoar, mas apenas se adaptar.

sexta-feira, junho 02, 2006

QUANDO A POEIRA ASSENTA

Uma das frases que mais ouvi nas últimas semanas foi “...a estréia de O Código Da Vinci, o filme mais aguardado do ano”. Confesso que este sentimento geral não se aplicava a minha pessoa. Não por desdém ou arrogância, mas porque não conhecia o livro e a polêmica religiosa que ele suscitava me deixava desconfiado. Admito que idéias como “a polêmica deve ser maior do que as qualidades do livro” realmente me passaram pela mente. Eis que minha esposa consegue o livro emprestado poucos dias antes da estréia de sua adaptação cinematográfica. Esforcei-me para ler o máximo possível antes da tão falada estréia. Valeu a pena? Confesso que não.

O livro é um lugar-comum de histórias de mistério, recheado por teorias que não encontram sustentação, nem na história da arte e muito menos na do cristianismo. Segundo especialistas sérios, é um dos livros mais mal pesquisados já vistos e comete erros históricos grosseiros. Ainda assim, uma pequena curiosidade me levou aos cinemas. Mesmo partindo de uma origem débil, o fraco livro escrito por Dan Brown, o filme poderia perfeitamente funcionar como um entretenimento passageiro e descartável. Havia potencial para isso.

Entretanto, alguns pecados capitais retiraram a possibilidade deste filme funcionar de forma eficiente. Primeiramente, os personagens centrais têm a profundidade de um pires. O roteiro não conseguiu passar para as telas a esquálida essência que os referidos personagens possuem no livro. O que já era mínimo no livro, desaparece por completo no filme. Obviamente, se os personagens são tão rasteiros, o trabalho dos atores ficou prejudicado. Tom Hanks está numa das piores atuações de sua carreira na pele do professor de simbologia Robert Langdon. Por sua vez, Audrey Tautou beira o ridículo, construindo uma Sophie Neveu excessivamente desorientada e tola.

Além disso, alguns elementos do livro, ligeiramente modificados, causaram grandes estragos. Um Langdon praticamente defensor da Igreja Católica soou muito mal, e cheirou a tentativa de se fazer média com uma das instituições mais poderosas do mundo. Certos fatos aconteceram muito rápido, outros não foram explicados e, no saldo final, quem não leu o livro corre o sério risco de não entender muita coisa.

Todos sabemos que Ron Howard costuma conduzir seus filmes num ritmo mais lento que a maioria dos cineastas de Hollywood. Em películas como Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind), este fato não chegou a comprometer. Infelizmente, não podemos dizer o mesmo de O Código Da Vinci (Tha Da Vinci Code). Quando um filme é lento, mas dentro de uma proposta artística, como costuma fazer Terrence Malick, conseguimos digerir melhor a falta de ritmo. O que não se aplica ao filme de Howard, que não possui nenhuma proposta artística.

Por último, quero fazer uma declaração de princípios necessária neste momento: SOU CRISTÃO! Isto mesmo, sou a ovelha negra, vergonha para meus colegas professores de História, ateus em sua maioria. Dito isto, pergunto: qual é a razão para toda a querela em torno das idéias defendidas por Dan Brown? Qual perigo elas representam? Quais estragos podem causar ao cristianismo? Respondo: nenhum!

Ninguém poderia prejudicar mais a imagem do cristianismo do que a Igreja Católica e as Igrejas Protestantes, com suas arbitrariedades, crendices, massacres, pilhagens, genocídios e ocultismos baratos, tudo em nome de Deus! Qual mal um mísero e débil Dan Brown poderia causar à Igreja, pior do que os males que ela já causou a si mesma ao longo da história?

Uma enorme nuvem de poeira foi levantada em torno da “obra” de Brown. Um livro que poderia abalar os pilares da Igreja Católica e do cristianismo. Imbecis radicais passaram a fazer uma campanha contra o livro e, por tabela, contra o filme. O Vaticano, um deputado paulista querendo chamar a atenção, e sabe-se lá que outra qualidade de oportunistas não se engajaram nesta luta contra a grande blasfêmia de Dan Brown. Todo esse barulho por causa “disso”? Um livro tão inofensivo quanto uma musiquinha infantil de Bia Bedran.

Nenhum livro ou filme pode abalar mais o cristianismo do que as atrocidades cometidas pelas Igrejas que se autodeterminam cristãs e detentoras das únicas verdades sobre esta crença. O resto é poeira!


Gostou do texto? Então, visite Restinga Musical, o blog-solo do Evandro!

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