domingo, dezembro 25, 2005

OS 10 MENOS DE 2005

Mantendo a tradição, chegou a hora de relacionarmos os filmes que, ao nosso ver, destacaram-se nos últimos 365 dias. Contudo, este ano não será igual àquele que passou. Em virtude das muitas decepções, decidimos publicar não uma, mas duas listas: a dos destaques positivos e a dos destaques negativos. Começaremos justamente por quem fez feio em 2005. Antes, alguns breves esclarecimentos. Em primeiro lugar, entram nas listas somente filmes que foram exibidos em salas de cinema ao longo do ano. Em segundo, as listagens finais foram montadas a partir do cruzamento das listas pessoais de cada um de nós, autores deste blog. Por fim, mas não menos importante, nem todos os filmes abaixo são necessariamente ruins. Há os que somente estão aqui por não corresponderem, total ou parcialmente, ao que deles esperávamos. Aos “vencedores”, as batatas!

10


Alexandre – Desta vez, Oliver Stone foi longe demais! E nem estamos falando da polêmica em torno da sexualidade do conquistador macedônio. Esta superprodução até seria aceitável se não tivesse sido concebida como uma presunçosa tragédia grega. Menção honrosa para as seqüências com Bucéfalo, num ano em que os cavalos roubaram a cena em Hollywood.

9


Closer – Os diálogos originais e as boas atuações são apenas subterfúgios para forçar as pessoas que se acham inteligentes a dizerem que o filme não é só um troca-troca imbecil de casais. Que é um filme profundo, intimista e etc. E quem tem a coragem de dizer que é só um troca-troca é visto como alguém inferior, que não entendeu a profundidade desta “obra”. Sobra pretensão, falta qualidade!

8


Harry Potter e o Cálice de Fogo – Os muitos fãs das aventuras do bruxinho que nos perdoem, mas sua cinessérie continua a nos parecer uma adaptação burocrática, falha e sem sentido (exceto o comercial) dos livros de J. K. Rowling. O ambiente de fantasia é até bacana, mas a ausência de situações capazes de despertar emoções genuínas quebra o encanto.

7


Korda – Muitos de vocês devem estar se perguntando: “Mas que filme é este?” Exibido na última edição do Festival do Rio, esta trama (sic) ininteligível, de ritmo (sic) moroso e estrelada (sic) por Babi constitui-se em um verdadeiro teste de paciência para quem a assiste. Para o bem da humanidade, deve ficar restrito a mostras e festivais de cinema.

6


Guerra dos Mundos – A nova empreitada de Spielberg tem lá suas qualidades. Contudo, duas situações-chave comprometem a coerência de toda a película: a morte desnecessária de um certo personagem – uma mera firula do cineasta –, e o final feliz forçado, incoerente, beirando o ridículo. Além disso, o público acaba se cansando quando percebe que o filme se resume a uma família enfrentando desventuras em série.

5


Cruzada – Definitivamente, 2005 não será lembrado pelos filmes históricos. E aqui o que mais desaponta é saber que tudo foi conduzido por Ridley Scott, um expert no gênero. As diversas seqüências “morte súbita”, encerradas abruptamente e justo quando começam a empolgar, são imperdoáveis para quem dirigiu Gladiador e 1492.

4


Marcas da Violência – Não, este filme não está na lista errada! Se esta é uma obra-prima, como querem os críticos profissionais, só se for da esquizofrenia, já que David Cronenberg não definiu uma identidade para o seu filme. Ora é uma crítica séria à violência (como deveriam ser todas as críticas à violência), ora é uma produção de humor negro à Quentin Tarantino.

3


Star Wars: Episódio III – Com certeza o filme mais aguardado do ano, aquele que gerou mais expectativas e, infelizmente, mais decepções. Sobretudo quando se trata da amarração ao conjunto da saga. Jedis ambiciosos e intervencionistas, siths demonstrando afeto, incoerências com acontecimentos da trilogia original... seria uma lista enorme! Além disso, a parte intermediária do filme é extremamente arrastada.

2


Desventuras em Série – Irmãos perdem os pais em incêndio misterioso e ficam sob a tutela de um parente capaz de tudo para herdar a fortuna dos órfãos. Um ponto de partida até interessante que acabou se transformando numa das ladainhas mais enfadonhas da história do cinema. Nem o talento de Jim Carrey salva este desastre. Só os muito pacientes assistem a este desfile de situações repetitivas e personagens sem carisma até o final!

1


A Lenda do Zorro – Pode até divertir aqueles que buscam uma aventura despretensiosa. Apesar disso, é impossível ignorar um roteiro que descaracteriza grosseiramente o personagem-título, além de ser anacrônico e perpassado por uma visão de mundo pós-11 de Setembro. Afinal de contas, os vilões são estrangeiros e terroristas. E o Zorro foi reduzido a um herói antiterrorista e defensor do nacionalismo norte-americano.

No próximo post: os 10 mais de 2005...


Um post de
PAULO & EVANDRO

domingo, dezembro 18, 2005

A OITAVA MARAVILHA DO MUNDO

Em 28 de dezembro de 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière apresentaram para o público a mais nova invenção de sua empresa: um aparelho que captava e exibia imagens em movimento, pomposamente batizado de Cinematógrafo. O evento entrou para a História como a primeira sessão de cinema. Ao que consta, o genitor dos Lumière não botava muita fé naquela então novidade, prevendo que rapidamente seria esquecida. Felizmente, para quem ama o cinema, o tempo mostrou que de profeta “papai Lumière” não tinha nada.

Não tardaria para que um outro francês, o genial Georges Méliès, transcendesse as curtíssimas tomadas de situações cotidianas, como eram os primeiros filmes, e apresentasse Viagem à Lua, produção definidora daquela que talvez seja a maior vocação do cinema: arrebatar o público para universos imaginários que somente esta forma de entretenimento pode tornar virtualmente possíveis. É da “linhagem” de Méliès que descende o neozelandês Peter Jackson. O cineasta já havia dado provas disto ao transpor para as telas com maestria a Terra Média, suas histórias e habitantes, na trilogia O Senhor dos Anéis. Agora, Jackson surpreende novamente ao recriar a Nova York da Grande Depressão e uma das criaturas mais clássicas do cinema: King Kong.

A história do King Kong de Peter Jackson nada tem a ver com a versão politicamente correta dos anos 70 (que adoro, por sinal), seguindo basicamente a trama do original de 1933. O diretor/produtor/roteirista dividiu os 187 minutos da película em três atos. No primeiro, de ritmo mais lento, somos apresentados à atriz Ann Darrow (Naomi Watts), ao cineasta Carl Denham (Jack Black), ao roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody) e aos demais passageiros e tripulantes do navio Venture, que parte rumo a uma enigmática locação. O segundo ato é marcado por uma vertiginosa aventura na Ilha de Itu, quer dizer, da Caveira, onde os personagens precisam enfrentar nativos agressivos, dinossauros anacrônicos e até insetos gigantes a fim de resgatar Ann das patas do gorila colossal Torê Kong. No derradeiro (e aguardadíssimo) ato, o filme volta para a ilha de Manhattan, na qual o macacão, apresentado como “a oitava maravilha do mundo”, encontra o seu trágico destino no alto do Empire State Building.

Além de lugares existentes no passado ou na imaginação, a narrativa de Jackson passeia por diferentes gêneros. Apesar do contexto pós-Crise de 1929, as situações do início do filme são típicas de uma comédia. A proximidade da Ilha da Caveira leva ao suspense. Uma vez neste ambiente, começa a ação. Aqui, se o público não chega a fugir da sala de cinema com medo de que alguma coisa saia da tela em sua direção (como supostamente ocorreu na histórica sessão dos Lumière), dificilmente se contém diante da visualização de um dos maiores temores da humanidade: o ataque de asquerosos insetos “tamanho GG”. E tudo termina em um drama de arrancar lágrimas.

Sim, dá vontade de chorar ao final deste King Kong. E as razões são muitas. A começar pelo carisma de Kong. Até aqui, este é o grande (em todos os sentidos) personagem digital da história do cinema. Não estou falando só da técnica, mas sobretudo dos traços de humanidade que o personagem apresenta. O Kong de Jackson acima de tudo é um ser melancólico. Sua existência é solitária e sem sentido. Mesmo com o brilho que Ann passa a dar em sua vida, parece que o gigantesco símio compreende que a morte é sua única perspectiva. Preciso confessar que, como uma criança, desejei até o último momento que Jackson alterasse o final original e que Kong milagrosamente se salvasse.

A tristeza do acender das luzes também se explica porque no horizonte dos próximos lançamentos cinematográficos, não vejo um outro filme que provoque em mim a mesma empolgação das produções cinematográficas que marcaram a minha infância, como este King Kong provocou. O nó na garganta e o aperto no coração que senti após o desfecho do filme soaram como as mesmas sensações, então misteriosas, despertadas há vinte e poucos anos quando assisti à minha primeira sessão (consciente) de cinema, o maravilhoso E.T., de outro brilhante “discípulo” de Méliès: Steven Spielberg.

O cinema não poderia ter comemorado seus 110 anos em melhor estilo.


domingo, dezembro 11, 2005

NAU SEM RUMO - Vol.1: Irreversível

Hoje em dia, em pleno século XXI, não podemos considerar que exista apenas um conceito de cinema e de filme. Aqueles filmes “fechados”, com início, meio e fim, que aprendemos a gostar quando crianças, não podem continuar sendo nossa referência única. Vivemos um período em que muito se fala sobre diversidade e o respeito à mesma. Não há mais um padrão único que vá se impor aos outros. Nem mesmo a toda poderosa indústria cinematográfica de Hollywood pode ser tomada como um padrão, visto que obras maravilhosas são realizadas fora dos EUA e, muitas vezes, com qualidades artísticas muito superiores.

Exatamente por isso, tento estar abertos às novidades. Mesmo que seja difícil compreender a sua totalidade, tenho perseguido este ideal de absorver os novos conceitos de filme, de cinema e as novas concepções sobre a arte em geral. Não podemos ficar presos àquele tradicional conceito hollywoodiano de que a história se dá numa seqüência lógica de começo, meio e fim, onde todas as respostas são dadas claramente ao público. Insistir nestes cânones fatalmente levaria a uma visão pobre e limitada sobre o que venha a ser cinema. Sem falar que esta postura gera uma certa intolerância cultural, que pode ser um caminho para formas mais graves de intolerância.

Esta apresentação inicial, impessoal e formalista, foi necessária para que o restante do artigo não seja confundido com preconceito ou padronização cultural. Certamente reconheço a validade de conceitos cinematográficos inovadores ou até mesmo de vanguarda. Contudo, o “novo” tem que fazer um mínimo sentido. Um recurso fílmico não ortodoxo deve estar ligado a um objetivo claro e determinado, ainda que simbólico ou alegórico. Simplificando: um diretor não deve, na minha visão, chocar o público só pelo prazer de chocar. Uma história pode não estar organizada numa seqüência lógica, mas deve ter um rumo, um objetivo a ser alcançado. Mesmo que a idéia do cineasta seja levar o público a uma profunda e lenta reflexão, iniciada a partir da não compreensão da totalidade da história. Ainda assim existirá um objetivo.

Infelizmente não consegui perceber qual é o rumo da nauseante (isto não é um trocadilho) seqüência de acontecimentos bizarros chamada Irreversível (Irreversible). O asco é o sentimento mais confortável que um ser humano com o pleno controle de suas faculdades mentais pode sentir diante deste filme. Não apenas pela absurda cena do estupro, asquerosa e repugnante, ou pelo show de horrores dos acontecimentos na boate gay, com destaque para o close no crânio sendo desfigurado. Estes elementos, sozinhos, seriam inegavelmente considerados por muitos, inclusive por mim mesmo, o cúmulo do mau gosto (Este filme me fez recuperar o conceito de bom gosto, que sempre achei esnobe e preconceituoso. Como eu estava errado!). O pior, entretanto, é que estes recursos são usados de forma irresponsável e sem nenhum objetivo. Se estivessem a serviço de alguma reflexão ainda seriam aceitáveis, por mais nojentos que fossem. Mas, a verdade é que são meras firulas do presunçoso diretor (Gaspar Noé) desta “película”.

Aliás, firulas cinematográficas devem ser a especialidade deste cineasta. Além dos exageros absurdos nas cenas de sexo e violência, a câmera rodando todo o tempo, a trilha sonora techno repetitiva e irritante, a narrativa invertida, com a história sendo contada do final para o começo são alguns exemplos do preciosismo vazio.

Um dado curioso: o fato da história ser narrada “de trás para frente” fez um ilustre crítico de cinema e ator brasileiro dizer que esta bizarrice mórbida, chamada Irreversível, tem o estilo dos filmes de Quentin Tarantino. Nunca ouvi um comentário tão equivocado. A violência de Tarantino é estilizada, geralmente a serviço da aguçada ironia que perpassa seus filmes. Já a violência de Irreversível é crua e nua e sem nenhum objetivo artístico.

Para aqueles que consideram Irreversível uma obra de arte, me perdoem. Vai ver que o filme está certo e eu tenho um pensamento muito rasteiro. Quem sabe numa outra vida eu considere arte este tipo de baboseira de mau gosto. Até lá...


domingo, dezembro 04, 2005

DOBRADINHA BRASILEIRA

Há dez anos, encontrar um filme brasileiro sendo exibido no circuito cinematográfico do país era uma verdadeira raridade. Sucessos nacionais de bilheteria então, nem se fala! Até que, num lance ousado (ou desesperado), a atriz e cineasta Carla Camurati colocou as poucas cópias do seu Carlota Joaquina, uma sátira sobre a presença da corte de D. João VI no Brasil, debaixo do braço e foi bater de porta em porta dos chapas exibidores a fim de que o longa pudesse chegar às telonas. A tática não só deu certo, como, para surpresa de todos, a fita se transformou num marco do reencontro dos brasileiros com as produções feitas neste país. A partir daí, muitos outros títulos nacionais passaram a compor uma lista de bem-sucedidos junto às nossas platéias. E os dedos de uma mão agora são poucos para contar o número de filmes brasileiros em cartaz.

Contudo, falta ainda aos nossos conterrâneos descobrir que o atual cinema brasilis vai além das biografias de ídolos musicais e comédias com o selo Globo Filmes. É uma pena ver que produções nacionais, que primam pela excelência técnica e narrativa, só por fugirem aos gêneros citados, acabam não recebendo a merecida presença maciça do público. Caso de dois filmes recentes, com diversos pontos em comum (histórias que lidam com a amizade, tendo o Nordeste como cenário, dirigidos por estreantes em longas de ficção e exibidos com sucesso nas últimas edições dos festivais de Cannes e do Rio): Cidade Baixa, de Sérgio Machado, e Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes.

No contemporâneo Cidade Baixa, Deco (Lázaro Ramos) e Naldinho (Wagner Moura) são amigos desde a infância e donos de um modesto barco de transporte. A relação simbiótica entre os dois é abalada pela presença da stripper Karinna (Alice Braga). O que começa como mais um negócio da dupla (ela pede carona na embarcação em troca de sexo), se transforma em um triângulo amoroso perigosamente à beira de uma tragédia.

Para ser bem sincero, este tipo de trama passional não me apetece. Até por não ser nada original. No entanto, como todas as histórias parecem já ter sido contadas e o que resta mesmo é como são contadas, não posso deixar de reconhecer que, no final das contas, Cidade Baixa é um filme de direção e atuação. Sérgio Machado adota um estilo nervoso, focado em gestos e na crueza da realidade, perfeito para uma narrativa que mostra como o Homo sapiens ainda se deixa conduzir de modo instintivo, da mesma forma que seus mais remotos ancestrais (se bem que, num dado momento, é uma característica humana, aqui representada por laços de amizade não de todo desfeitos, que impõe um limite à animalidade). Méritos também para a trinca central de protagonistas, dando um show de interpretação (se bem que isso não surpreende em se tratando de Ramos e Moura).

Já em Cinema, Aspirinas e Urubus, somos levados ao sertão nordestino de 1942. Fugindo da Segunda Guerra Mundial, o alemão Johann (Peter Ketnath) torna-se um vendedor itinerante de aspirinas em terras brasileiras, utilizando-se de um meio de persuasão irresistível: o cinema. No caminho, Johann concede carona ao falastrão Ranulpho (João Miguel – anotem esse nome!). Logo, se estabelece uma amizade que os conduz a destinos imprevisíveis.

Sem titubear, trata-se do melhor filme brasileiro do ano (quiçá dos últimos anos). Razões não faltam para esta minha afirmação, que vão da bela fotografia esmaecida (como um velho retrato, mas que também serve para acentuar a aridez do sertão) à incrível habilidade de Marcelo Gomes (a cena em que três personagens dialogam na parte dianteira do carro de Johann não me desmente), passando pelo jogo de contrastes, em especial, os pontos de vista dos protagonistas sobre nossa terra (que fascina o estrangeiro e amargura o nordestino). Há que se destacar também as canções de época que funcionam como complementos a diversas situações do longa, no melhor uso que conheço de uma trilha sonora não-original em um filme. Enfim, pode não ser a cura para todos os males, como promete o reclame da aspirina. Mas que faz a gente sair do cinema mais leve, isso faz!


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